Os números da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios do IBGE em sua versão para analisar os efeitos econômicos e sociais da pandemia (PNAD Covid) compõem um retrato inquestionável dos impactos provocados no mercado de trabalho. Nos quatro meses de análise, mais de 10 milhões de empregos foram fechados, algo que corresponde a mais de 10% do contingente que compõe a mão de obra total do país. Estatística que, de certa forma, funciona como balde de água fria na percepção de melhora e retomada, puxada por setores como o agropecuário e o da construção civil. Ao revelar o tamanho do desafio para que se retome um patamar semelhante ao verificado até o início do ano, que já não era caracterizado por otimismo.
Não por acaso, economistas já estimam em pelo menos dois anos o tempo necessário para se voltar a pensar em estabilidade e perspectivas de crescimento. Prazo condicionado à evolução das condições sanitárias atuais (o que dependeria da manutenção da tendência de queda na disseminação do novo coronavírus, sem uma segunda onda que não se pode descartar de momento; bem como à disponibilidade rápida de uma vacina eficaz contra a Covid-19). E que exigirá medidas ainda mais firmes de incentivo aos setores produtivos - não o que se planeja fazer em Brasília, com a suspensão, no fim do ano, da desoneração da folha de pagamento de 17 segmentos responsáveis pela maior parcela dos empregos gerados em nossa economia. Ou sua substituição por um tributo aos moldes da extinta CPMF que viria em momento totalmente inoportuno.
Se há algo que possa ser considerado positivo em relação aos números divulgados e sua interpretação, é a análise de que o aumento no número de desocupados (as pessoas fora do mercado que buscam colocação ou recolocação) se deve, em parte, pelas condições que favorecem quem seguia o isolamento social de forma rígida retomar a procura. Da mesma forma, é um certo motivo de alívio identificar que Minas ainda apresenta o menor percentual da Região Sudeste.
O desafio de deixar para trás as consequências desastrosas do ponto de vista econômico, como se vê, está longe de ser modesto. E exigirá ações certeiras tanto do poder público quanto da iniciativa privada, no que deve ser um esforço concentrado.