Editorial.

Brasil paga por não enfrentar a violência

Publicado em 03/02/2017 às 21:44.Atualizado em 15/11/2021 às 22:41.

O brasileiro convive diariamente com a violência, desde a insegurança ao andar pelas ruas até o discurso de ódio que toma conta das redes sociais. Até outros tipos de violência são bem comuns, como o desrespeito no trânsito, a discriminação racial ou o descaso com a saúde. 
Aos poucos, vamos nos acostumando a ver tudo isso como se fosse algo corriqueiro e normal. Desde que não ocorra algo grave com a gente ou com alguém próximo, a violência do dia a dia passa praticamente desapercebida e serve até de entretenimento em programas de TV no fim do dia. Afinal, o que tem a ver um morador da zona Sul de BH com ônibus queimados na região Norte, supostamente por ordem de bandidos, em retaliação a ações da polícia?

Pois bem. Uma pesquisa do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID) calculou que a violência resultou em um prejuízo para o país de cerca de R$ 75 bilhões no ano de 2014. E isso não é investimento em segurança pública. Foram contabilizados todos os custos extras gerados pela violência. 

É aí que o morador da zona Sul se liga ao vereador da zona Norte. Na caso específico dos ônibus incendiados, cada veículo custa R$ mais de R$ 300 mil. Mesmo se considerarmos que as empresas têm seguro, o maior número de ocorrências aumenta o valor do seguro dos quase 3.000 veículos, forçando o reajuste das passagens. Ou seja, todos nós pagamos do nosso bolso o prejuízo de um ato violento. 

Somos responsáveis, sozinhos, por 53% de tudo o prejuízo causado pela violência na América Latina e no Caribe, que inclui países como México e Colômbia. Sim, estamos muito atrás de países que, no nosso imaginário, seriam mais violentos. Mas não são. 

Tratar a violência no Brasil depende de uma mudança geral de cultura. Precisamos de mais polícia na rua, mais agentes investigando, mas não adianta ter um efetivo gigantesco se um suspeito é preso por 20 ou 25 vezes. Não adianta mantê-los presos se não há locais adequados para eles cumprirem pena. Não adianta condenar sem dar oportunidade para a ressocialização. 

Temos que decidir se vamos enfrentar a violência de vez ou continuar literalmente pagando para que o problema seja “empurrado com a barriga” torcendo para que não sejamos a próxima vítima. 

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