Um dos maiores desafios do serviço público na atualidade, o déficit de profissionais em setores estratégicos, como o da segurança pública, compromete a prestação de serviços e afeta na razão de ser do próprio Estado: a promoção do bem-estar da coletividade.
Matéria nesta edição mostra o desfalque em áreas essenciais, como nas polícias e no Corpo de Bombeiros. Na Civil, o número de delegados é, hoje, 44% menor do que o indicado na Lei Orgânica, o que dá a dimensão do problema. Se a quantidade de policiais é calculada proporcionalmente em relação à população, a escassez de agentes deixa descoberta parte dos habitantes, ou os submete a um atendimento precário em comparação ao que deveria ser. Basta imaginar que há locais onde um escrivão tem sob sua tutela até 5 mil inquéritos, segundo relato de representantes da categoria. Considerando-se que ele é a ponte entre os investigadores e os delegados, não é difícil imaginar o quanto se perde na apuração de crimes e contravenções diante de tamanha sobrecarga de trabalho.
No Corpo de Bombeiros, a situação não é muito melhor. Hoje, estima-se que o efetivo seja 30% inferior ao necessário. Sem as devidas reposições, a tropa muitas vezes não consegue descansar o suficiente entre uma missão e outra. Não raro, os militares são chamados nas folgas para completar equipes, não porque a emergência exige o reforço, mas porque o mínimo necessário simplesmente não pôde ser garantido com quem estava escalado.
O resultado parece óbvio: mesmo com todo o empenho, o juramento à profissão e a dedicação às vítimas, não há corpo cansado que suporte uma operação de resgate – seja num acidente de trânsito, num incêndio em mata ou numa tragédia de proporções similares à de Brumadinho – da mesma forma que um plenamente recuperado para esse tipo de batalha.
Recompor os quadros esbarra em dificuldades que vão da insuficiência de caixa ao respeito à lei, como a de Responsabilidade Fiscal. No entanto, não podemos nos esquecer de que a gestão eficiente da coisa pública é uma tarefa a ser buscada diariamente, quer cortando gastos desnecessários, quer buscando alternativas criativas para esse estrangulamento.