As mulheres são maioria na população brasileira e, mais especificamente, na de Belo Horizonte. Ao longo das últimas décadas conseguiram ampliar seu espectro de atuação e desbravar novas fronteiras, mas ainda se mostram sub-representadas em todas as esferas da política. No Congresso Nacional, por exemplo, são 15% do total das cadeiras, algo indigno de sua relevância no debate. E cujas raízes estão na construção histórica da sociedade brasileira, com a supremacia de uma visão patriarcal que as condenava a não participar do processo até 1932 e a abraçar as tarefas ditas domésticas. Ou a se contentar com vencimentos inferiores aos pagos aos homens.
Felizmente se observa vários movimentos na direção contrária a essa tendência, de modo a ampliar uma representatividade que, em outros setores, é cada vez mais notada, o que deve ser aplaudido. Algo que, de forma correta, se mostra estimulada com a adoção das cotas de candidaturas que, diferentemente do que se pensa, não disciplinam especificamente a participação feminina. Estabelecem, sim, que qualquer dos gêneros deve ter, pelo menos, 30% do total previsto para uma referida legenda. E, na mesma direção, determinam igual reserva de recursos do fundo partidário, de modo a garantir a participação no processo em condições dignas.
Espera-se que tal distinção um dia venha a desaparecer, movida por uma participação feminina em números coerentes com a realidade da distribuição populacional. Até lá, no entanto, é fundamental incentivar o interesse, o envolvimento e o engajamento das mulheres num processo que, por vários aspectos, ainda lhes é hostil. É triste constatar que sete décadas de funcionamento do legislativo municipal da capital tenham sido marcados por apenas 32 vereadoras - menos do que a capacidade atual do plenário.
A presença da mulher no parlamento é, acima de tudo, coerente com a realidade democrática. E importante para que as pautas que lhes sejam caras venham a ganhar o debate. Ninguém melhor do que elas sabe o peso de uma realidade de violência doméstica, falta ou incompletude de políticas públicas de saúde ou de programas de estímulo à inserção profissional e à ocupação do espaço na sociedade. Trazer tais questões de forma ainda mais significativa à discussão é saudável para a democracia como um todo, e uma dívida histórica que, espera-se, começará a ser equacionada no pleito de 15 de novembro próximo.