A recente ação de desocupação da cracolândia em São Paulo mostrou como o problema das drogas pode chegar a um nível bastante preocupante se não for encarado com atenção. Os desafios urbanos que não são enfrentados no início acabam crescendo como plantas daninhas dentro da sociedade. Depois, na natureza e nas cidades, é muito mais difícil arrancá-las.
A região de BH que também recebeu a denominação de cracolândia ainda não é dominada por nenhuma facção criminosa que estipula um poder paralelo. Ainda, pois ela só não chegou a esse ponto há alguns anos porque não temos em Minas um crime tão organizado. E esperamos que nunca tenhamos.
A região da Lagoinha foi uma das que mais receberam investimentos nos últimos anos na capital mineira. A avenida Antônio Carlos foi totalmente revitalizada, com a destruição de vários imóveis que serviam de esconderijo para bandidos. O corredor hoje é muito melhor iluminado, com pontos de ônibus mais seguros e boa sinalização. Muitos pensavam que seria o impulso para uma nova era na região.
Até que, visualmente, houve mudança. Mas a cracolândia permanece ali, na mesma esquina, no mesmo trecho de rua, com o mesmo modus operandi do tráfico de drogas, à luz do dia para quem quiser ver ou se assustar.
Essa é mais uma prova de que não bastam investimentos em estrutura física, asfalto e pinturas novos. Se não houver um trabalho social que comece a atuar logo após a revitalização, os problemas voltam, às vezes até em dimensões maiores.
E no caso da Antônio Carlos não é somente o comércio de drogas que está retornando com maior força. Há um descuido com todo do entorno da via, conforme mostramos exatamente há uma semana com invasão de terrenos por famílias sem teto.
Quem se lembra daquela região, principalmente no período da noite, e passa por lá hoje sabe o tamanho da diferença. Moradores e a população em geral não podem permitir que todo o trabalho de revitalização e também todo o dinheiro público gasto sejam perdidos por absoluta falta de planejamento de ações de cunho social, como acolhimento de usuários e atendimento a famílias carentes.
Não precisamos chegar ao mesmo nível da cracolândia paulistana para concluirmos que algo precisa ser feito. Depois, para restabelecer a ordem, terá que ser utilizada a força, assim como foi em São Paulo. E quando isso ocorre as consequências são sempre imprevisíveis.