Houve um tempo em que Belo Horizonte, além de ser conhecida como Cidade Jardim, era famosa pelo clima ameno, o que trouxe à cidade Noel Rosa, o ‘Poeta da Vila’ para se tratar de uma tuberculose. As décadas se sucederam, o adensamento populacional ganhou força e, somado à perda de boa parte da cobertura verde da capital e do entorno, verificou-se um aumento progressivo das temperaturas médias. Os invernos, salvo fenômenos circunstanciais, são menos frios, e as estações marcadas pelo calor (primavera e verão) bem mais quentes. É habitual, aliás, que os termômetros atinjam seu ponto máximo na primeira, e não no segundo, como se poderia imaginar.
O sábado em BH foi de impressionantes 37,8°C, marca histórica para a pouco mais que centenária cidade. E as previsões, cada vez mais completas e acuradas, mostram que pode não ter parado por aí. O que muitas vezes vem acompanhado de outras formas de desequilíbrio climático, como granizo e ventanias. Não custa lembrar que o ano agora caracterizado pela pandemia começou com chuvas que bateram todos os recordes em termos de volume e intensidade, causando mortes e prejuízos em vários pontos da cidade.
Na ocasião, o fenômeno foi qualificado como ‘a chuva dos 100 anos’, por sua ocorrência rara. É difícil acreditar, no entanto, que a próxima virá apenas no século seguinte. Como todo o planeta, BH colhe os frutos (amargos) do que plantou com a verticalização, a especulação imobiliária e o crescimento desordenado. Áreas verdes inteiras foram transformadas em bairros, o que também ocorreu nas demais cidades da Região Metropolitana. Com mais gente, mais veículos, mais concreto e menos espaço para a circulação do ar, cria-se uma equação preocupante.
O aquecimento deve ser, sim, preocupação e prioridade dos candidatos à PBH. Ainda que o novo Plano Diretor da cidade tenha aberto caminho para correções e cuidados, não se pode esquecer do que foi construído antes dele. Dos rios canalizados para dar espaço a avenidas; de uma reposição de áreas verdes inferior às retiradas e da falta de políticas públicas de incentivo a práticas sustentáveis. É preciso reciclar mais lixo, investir mais em energia solar e em formas de mobilidade alternativa. Ou o preço a pagar mais tarde pode ser caro demais.