Editorial.

O cuidado com quem mais precisa



Publicado em 20/08/2020 às 07:38.Atualizado em 27/10/2021 às 04:19.

Fazer parte do grupo de profissionais que lidam diretamente com o enfrentamento à Covid-19 já é, por si só, um ato de heroísmo. Por mais que médicos, enfermeiros, técnicos e demais profissionais da chamada linha de frente estejam cumprindo as funções para as quais foram preparados e escolheram abraçar, a natureza da pandemia trouxe um fator complicador, diante do risco de contágio que se pode considerar bastante superior ao provocado por outras enfermidades do gênero. Se para a grande maioria da população o distanciamento social representa um menor potencial de contato com o novo coronavírus, para esta legião de pessoas não há escolha. A convivência com o que representa um perigo é necessária e, como se constata, tristemente trágica.

Os números oficiais revelam que, somente em Minas, 322 pessoas que atuam em tais condições perderam a vida em decorrência da Covid. De diferentes idades, funções, em diferentes cidades. Um número que, no Brasil, supera a casa dos 5 mil óbitos, estatística bastante superior à verificada na maioria dos países em que a pandemia se mostrou mais letal. O que mostra que há vários erros ou deficiências na estratégia de enfrentamento direto. Ao longo deste período, muitos foram os registros de trabalho sem os equipamentos de proteção individual adequados; improvisações e exemplos de condução inadequada da força de trabalho. Funcionários da área de saúde com comorbidades deveriam ter sido imediatamente afastados das atividades de maior risco. Nas semanas de maior número de novos casos, houve relatos de filas de pacientes nas unidades de atenção básica à espera de transferência para centros especializados.

Chama a atenção o fato de que tem sido registrado aumento no número de fatalidades num momento em que os problemas de desabastecimento de EPIs e material hospitalar adequado se mostram menores. E que, na teoria, a estrutura de atendimento está mais consolidada, depois dos esforços para a ampliação do número de leitos. Sinal de que o planejamento e as ações adotadas se mostram insuficientes para mitigar riscos onde se sabe que são maiores.

Se todas as mortes registradas são motivo de tristeza, causam ainda mais as que envolvem quem tem por missão justamente evitá-las. Não se pode apenas assistir passivamente ao aumento dos números e lamentá-los.

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