A ida de dois deputados da oposição, custeada pela Câmara dos Deputados, a Nova York, a fim de fazerem contraponto ao que ela diria na assinatura do Acordo de Paris, é prova da falta de confiança em Dilma Rousseff. Mas ela soube usar, com elegância, o direito à fala na solenidade na sede da ONU e, como devia ser, dedicou apenas um minuto à questão política, cumprindo sua função de estadista. Para os oposicionistas, a presidente não se referiu a “golpe”, como vem classificando a aprovação do impeachment pela Câmara dos Deputados, por temor ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A presença de uma presidente em risco iminente de afastamento na cerimônia do Acordo de Paris pode não ter acrescentado muito à repercussão internacional da crise vivida pelo país. Brasileiros que moram em Nova York se manifestaram pró e contra o impeachment. Autoridades presentes à conferência se solidarizaram com Dilma e não houve quem demonstrasse posição contrária.
“O grave momento por que passa o país” citado pela presidente não é só o político. Nos últimos 12 meses o país perdeu 1,85 milhão de empregos, segundo pesquisa divulgada ontem pelo IBGE. Não se trata de culpar ou isentar Dilma Rousseff pela crise econômica. Ela é responsável por diversas medidas que culminaram com a quebradeira de empresas e o fechamento de vagas, mas faltou também compromisso do setor produtivo e dos políticos de oposição. Quem paga o pato não é só a Fiesp e o empresariado, mas todo o país, que em Nova York, pelas palavras de Dilma, se comprometeu com as medidas em defesa do meio ambiente.
“Sou grata a todos os líderes que expressaram a mim sua solidariedade”, afirmou a presidente. Mesmo sutil, tratou-se de um pedido de apoio internacional, que, mesmo que viesse, não surtiria efeito. Apesar dos argumentos de “golpe”, a votação na Câmara é legítima e o enfrentamento no Senado deverá resultar em nova derrota, como admitem setores do governo.
O país caminha para um desfecho do processo de impeachment, ao menos com a primeira medida, que é o afastamento real da presidente do seu cargo no Planalto. Ao que tudo indica, o PT de Dilma e Lula jogou a toalha e não acredita em milagres. Resta saber como a economia se comportará nesse período; se ouvirá, obediente, a voz dos otimistas que pregam recuperação com um possível governo de Michel Temer.