Os problemas vividos pela Prefeitura de São Paulo para enfrentar a questão do uso das drogas em espaços públicos retomou a discussão na sociedade sobre o assunto, de uma maneira até mais intensa do que tempos atrás. A repercussão maior pode ser por a gestão da maior cidade do país ter partido para o enfrentamento do problema de maneira mais forte, embora com métodos e foco bastante questionáveis. No entanto, a ação das autoridades paulistanas pode ter sido boa, de um certo lado, para jogar luzes a um assunto que começa a avançar sobre quase todas as cidades do Brasil.
Pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios mostra que o tráfico e o consumo do crack está se interiorizando, não somente para as cidades-polo, mas para os pequenos municípios. O levantamento voluntário mostrou que, em Minas Gerais, duas a cada três cidades (67%) relataram que possuem níveis alto e médio de problemas envolvendo o entorpecente. E certamente o número deverá ser maior já que algumas cidades, como a capital mineira, não responderam o questionário enviado pela CNM. A entidade de prefeitos destaca que esse mal já chegou ao campo, às zonas rurais.
Acabar com as chamadas “cracolândias”, a exemplo do que quis fazer São Paulo, não é mais possível. O problema já está muito maior do que algumas pessoas, que não devem andar muito pelas ruas do município onde moram, pensam.
Primeiro, devemos tentar entender a questão. O que leva uma pessoa a ir até um lugar desse, com condições sub-humanas? Ela já tentou superar o vício? Têm vínculos familiares?
Quase todas as entidades e especialistas que têm contato com essa parte da população trata o caso como de saúde pública, não de criminalidade. E saúde não se trata com bombas.
O crack não parece a causa de problemas das cidades, e sim, aparenta ser mais uma consequência de uma sociedade excludente que não consegue tratar de forma digna as pessoas que ela mesmo considera “normais”, quanto mais quem ela faz questão de ignorar.
Para acabar com as cracolândias, em São Paulo, Belo Horizonte ou em cidades do interior, é preciso acabar com estigmas e preconceitos e estender o braço para quem precisa de ajuda. Se a rua é a única alternativa que damos aos usuários, é por ela que eles vão seguir.