Antes mesmo da pandemia de Covid-19 a Previdência Social brasileira já vivia seu colapso, com o acumular de casos à espera da devida análise, para a concessão dos respectivos benefícios. Uma fila que só fez crescer diante do impasse envolvendo a montagem de uma equipe de reforço para ajudar a desafogar o quadro. Que, se cogitou inicialmente, seria composta apenas por militares da reserva, mas em seguida passaria a incluir também aposentados do próprio INSS, mais acostumados aos meandros do sistema e capazes de agilizar o andamento dos processos.
A explosão de casos do novo coronavírus levou à suspensão do atendimento presencial e ao fechamento temporário de agências já em março, com as atividades prosseguindo de modo digital, quando possível. Situação que se prorrogou até este mês, quando, ao menos na teoria, o cronograma de atendimento foi retomado em todo o país, por meio de agendamentos. O que não se deu em um dos serviços fundamentais da Previdência: as perícias médicas, necessárias para autorizar a concessão de benefícios e determinar afastamentos e retorno ao trabalho em caso de lesões incapacitantes. Os profissionais da área se recusam a retomar as atividades até que ajustes nas medidas de prevenção e proteção nas agências sejam feitos, de modo a reduzir os riscos de contágio pela doença que se transformou em problema global.
Como já havia ocorrido no caso do Auxílio Emergencial, a comunicação com o segurado é falha, difícil, e leva a desencontros de informação e frustrações. Não são poucos os casos de pessoas que, sem condição para trabalhar, dependem do auxílio para se manter - um drama que se prolonga para bem adiante do devido. O mesmo vale para as aposentadorias por invalidez.
Mais uma vez se superestima a relação da população com a tecnologia, como se todos tivessem acesso a aplicativos e instrumentos remotos de comunicação. E se age de forma a desprezar uma situação de saúde justamente para com um órgão que tem nela boa parte de suas competências e missões. Não pode agora ser o déficit crescente justificativa para falhas. Tanto mais que a recente Reforma da Previdência abriu caminho para reduzir o passivo e proporcionar um sistema mais equilibrado. O cidadão que passa bons anos de sua vida contribuindo para o INSS merece ser tratado de forma digna, especialmente num momento de extrema necessidade.