O uso de agrotóxicos pode até aumentar a produtividade no setor rural, o que, claro, eleva a oferta de mercadorias e aumenta o lucro de grandes corporações. Mas, feito de forma indiscriminada, com componentes reconhecidamente perigosos e sem fiscalização rigorosa, torna-se um grave problema de saúde pública.
Prova disso é o mais recente relatório sobre o assunto publicado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - apresentado com exclusividade nesta edição do Hoje em Dia. Segundo o levantamento, de 2007 a 2015, o número de intoxicações por defensivos agrícolas aumentou 300% em Minas Gerais.
Foram 13 mil casos contabilizados no período, fazendo do Estado o segundo no ranking nacional de contaminações. As vítimas são tanto pessoas que lidam diretamente com as lavouras quantos consumidores que ingerem a produção.
Para piorar o quadro, ainda se fala, no país, em ampliar e tornar menos burocrática a adoção de agrotóxicos. Projeto de Lei do deputado federal Luiz Nishimori, do Paraná, por exemplo, tem por objetivo “flexibilizar” o uso dos defensivos. Uma das medidas chega a ser engraçada, para não dizer trágica: o PL propõe trocar o termo “agrotóxico”, considerado negativo na denominação desses produtos, para “fitossanitários”, nome que seria mais palatável para a sociedade.
Outro item do projeto, bem mais perigoso, é o que prevê a concentração da autorização para a venda dos defensivos agrícolas no Ministério da Agricultura, deixando de fora dessa fiscalização órgãos como Ibama e a própria Anvisa.
O que as autoridades sanitárias deveriam fazer é flexibilizar o próprio conceito de agronegócio, que, nos moldes atuais, pode colocar a saúde das pessoas em risco. Estimular a agroecologia, hoje uma tendência mundial, e o cultivo de alimentos sem venenos, combatendo pragas com recursos naturais, seriam a melhor opção.
Enquanto a ideia não se dissemina - os produtos orgânicos, infelizmente, ainda têm alto custo para boa parte da população -, a solução que se tem é mesmo caseira: lavar legumes, folhas e outros alimentos não apenas com água sanitária, mas com bicarbonato de sódio, por exemplo, pode tornar a comida do dia a dia bem mais saudável. Ou bem menos nociva.