Editorial.

Quem tem grana se protege

03/08/2016 às 20:48.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:09

As primeiras doses da vacina contra a dengue já estão em Belo Horizonte e são preparadas por laboratórios particulares. A fila de espera está sendo formada e a procura é grande. Afinal, de janeiro a julho deste ano, foram 526.622 casos prováveis da doença com 195 óbitos registrado em todo o Estado. 

A gravidade do quadro mostra que a imunização deveria ser o caminho urgente para conter o avanço da doença, mais urgentemente, e evitar que outras epidemias ocorram a cada surgimento de um novo tipo de vírus.

Temos, porém, dois aspectos a lamentar: primeiro, o fato dessa vacina não ter sido desenvolvida por algum dos vários institutos brasileiros capacitados. A doença já está presente nas grandes cidades do país desde os anos 1990. De lá para cá, houve tempo suficiente para o desenvolvimento de uma vacina, caso nossos cientistas tivesse recebido recursos e apoio para a pesquisa. 

O segundo – até consequência do primeiro – é o fato de a vacina não ser oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde. É justamente nas comunidades carentes que está a maior parte dos focos do mosquito transmissor, e, portanto, a população desses locais está mais exposta à doença. 

No entanto, os primeiros a receber as vacinas são aqueles que vão ter condições de pagar cerca de R$ 300 pela dose. Nada contra quem tem condições de se proteger, mas em se tratando de uma doença que já prejudicou milhões de pessoas e matou milhares no Brasil, a imunização não deveria chegar somente para quem pode pagar uma quantia significativa em relação à renda do brasileiro. Se somarmos as três doses necessárias para imunização completa aos R$ 427 do custo da cesta básica, conforme divulgamos ontem, o trabalhador gastaria mais que um salário mínimo para comer e não ter dengue, sem sobrar mais nada. 

E embora a Agência Nacional de Vigilância Sanitária tenha alertado para o risco de abuso de preços praticados ao consumidor na compra das doses, divulgando o valor do custo de cada aplicação, em torno de R$ 135, a lei que deve orientar os preços é a da grande procura em relação à pouco oferta do produto: a alta no preço é inevitável. 

E não temos muitas possibilidades em um horizonte próximo. União, Estados e municípios estão de cofres vazios e sem condições de honrar os compromissos constitucionais em relação ao atendimento básico de saúde em geral, ainda mais para a compra e a distribuição dessas vacinas pelo SUS. 

O que ocorre que mais uma vez pagamos pela falta de planejamento, de visão de futuro e de cuidado com a saúde da população. O maior penalizado é, mais uma vez, a parte mais pobre, que terá que abrir mão da alimentação se quiser evitar pegar dengue. 
 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por