Nos primeiros meses da pandemia, houve quem tentasse minimizar seu alcance e importância numa tentativa equivocada de comparar o número de mortes aos de fatalidades provocadas por outras causas, naturais ou não. Àquela altura, as estatísticas eram relativamente limitadas, considerando-se especialmente a situação em países como Itália e Espanha, que se transformaram nos primeiros epicentros do contágio pela Covid-19. Ainda assim, os defensores de tal tese ignoravam a letalidade provocada pelo novo coronavírus num intervalo limitado de tempo, inviabilizando ainda mais a comparação.
Mal se sabia então que o país superaria a triste marca de 90 mil vidas perdidas, transformando-se num dos focos da pandemia, ao lado dos Estados Unidos. Estatística que, infelizmente, está distante de ser a definitiva, considerando-se a situação ainda preocupante em vários estados e municípios. Em Minas, por exemplo, vive-se ainda o pico, com a curva de contágio estabilizada em um patamar elevado, dando os primeiros sinais de redução. Como mostra reportagem nesta edição, antes mesmo da aceleração experimentada em julho, o total de óbitos em Belo Horizonte era 156% superior ao registrado por acidentes de trânsito.
Agora, aliás, a comparação se justifica para dimensionar o efeito devastador da Covid-19 no país. No ano passado, foram registradas pouco mais de 40 mil mortes ligadas ao trânsito, número que é considerado elevado na média internacional. E que, ainda assim, não chega à metade da soma registrada em consequência da pandemia. Não há justificativa - dimensão territorial, total da população - que consiga diminuir a relevância de uma tragédia sanitária sem precedentes.
Sempre é importante ressaltar que há uma série de medidas preventivas capazes de dificultar o contágio, e que é possível reduzir os riscos, dentro do possível. Já que há o paralelo com o trânsito, também no caso do coronavírus a imprudência é inaceitável.
Ignorar determinações e recomendações e seguir minimizando a doença, ou apelar para medicações de efeito nulo, é contribuir diretamente para piorar um cenário que já é mais sério do que qualquer outro que se queira usar de parâmetro.