Benditos cachos: brasileiras trocam liso por cabeleira natural; técnicas garantem beleza dos fios

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
28/01/2017 às 19:59.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:36

Número 1 no ranking mundial quando o assunto é o cuidado com os cabelos, as brasileiras não estão apenas antenadas em produtos novos, capazes de deixar as madeixas impecáveis. Estão de olho também nas tendências e nos segredos que prometem aumentar a saúde, a vivacidade e a beleza dos fios, sobretudo os cacheados. Tudo de forma natural e sem química! 

Um dos métodos veio de outro continente, e já conquistou muita gente por aqui: Low Poo e No Poo, pouco xampu e sem xampu, respectivamente. Criado pela inglesa Lorraine Massey, preconiza o uso de produtos que fazem pouca espuma (low) e a substituição do xampu tradicional por uma espécie de “condicionador lavante” (no). 

Em Belo Horizonte, o “boom dos cachos” não ficou para trás. Tem até salão de beleza específico para cuidar das adeptas das madeixas ao natural. Proprietária do Mab Mais Cachos, no bairro Santa Lúcia (zona Sul), Mabel Garcia chegou a atender 15 cacheadas em um dia só. A maioria, segundo ela, disposta a renunciar à química e a encarar a transição capilar. 

Liberdade

 A analista de marketing Alice Corrêa, de 29 anos, é um exemplo. Há cerca de dez meses, a moça decidiu se rebelar contra a ditadura do liso. Para isso, incluiu na rotina de beleza o método low poo, escolhendo produtos sem parabeno ou sulfato – que limpam profundamente, mas acabam ressecando os cachos. 

Hoje, Alice exibe um curtinho 100% natural. “Tudo começou na internet. Comecei a ler muita coisa a respeito, mas não tinha ideia de que era possível fazer. Até então, não conseguia me imaginar de outra forma que não fosse alisada”, comenta.

Foi preciso desapegar, assume. Da química a cada três meses e do padrão a que estava acostumada há quase 20 anos. “Minha vida mudou completamente. Hoje sou livre e não uma refém do cabelo”.

Cuidados

Sobre a “invenção” da inglesa, Mabel Garcia diz que não há mistério. O método de lavagem é direcionado para cacheadas e tem como premissa limpar e tratar sem ressecar. “São produtos sem sulfato ou sal, que dão pouca espuma, ou xampu nenhum. Silicones precisam ser evitados, já que só são removidos com xampus convencionais”. 

Ela lembra ainda que passar pela transição, fase que vai do abandono do liso à retomada dos cachos, requer cortes pelo menos trimestrais e muito cuidado. 

“Quem está disposta pode apostar no big chop (grande corte, em português), que elimina a química presente, e sempre cortes a seco. Com o cabelo molhado e o cacho esticado perde-se completamente a referência de posicionamento e da modelagem que deseja ter”, enfatiza. 

Cacheia.com dá dicas para quem está redescobrindo os cachosArquivo Pessoal

AUTOACEITAÇÃO - Maressa abandonou os produtos químicos e deu as boas-vindas aos cachos naturais; blog com três amigas encoraja outras meninas

Moradora de Belo Horizonte, a baiana Maressa Santos, 22 anos, uniu o útil ao agradável ao criar, junto com outras três parceiras – Ana Catarina Cizillo e Raysa do Carmo, de BH, e Mariana Boaretto, de São Paulo – o site Cacheia. A ideia das meninas, adeptas da redescoberta dos cachos, era compartilhar curiosidades e sugestões, inclusive de especialistas, e desmistificar o processo de transição capilar. Até 2016, a página na web, que recebe contatos até de estrangeiras, era mantida como um hobby. Este ano, o quarteto decidiu ganhar dinheiro com a empreitada. “É um espaço de ativismo, onde discutimos temáticas como a luta pelos direitos das mulheres e o feminismo”, ressalta Maressa.

Beleza das madeixas começa por cuidado com a raiz

Conquistar cabelos reluzentes e saudáveis não depende só de métodos e produtos caros. Ter madeixas realmente bem tratadas e bonitas vai muito além do tempo dispensado com o comprimento dos fios: deve começar pela raiz! 

Desincruste do couro cabeludo, limpeza, massagem e oxigenação, tudo com cosméticos naturais, são o passo a passo da chamada terapia capilar. 

Na capital mineira, Renata Fraga foi pioneira no tratamento, sucesso entre homens, mulheres, gente com pouco, muito cabelo e até entre quem sofre com calvície. 

Ela explica que o método tem um princípio parecido com o de adubação. “Gosto de fazer essa analogia. Assim como as plantas, os cabelos precisam que a gente vá até a raiz, adube, massageie, faça a poda, jogue água e coloque no sol. Só assim é capaz de florescer”. 

Para provar que a receita resolve, a terapeuta capilar dona do Renata Fraga Hair Spa, no bairro Gutierrez, região Oeste de BH, submeteu os próprios fios a um desafio pra lá de ousado e até irreverente. Fotos: Juliana Foini e Leca Novo/Divulgação

TRANSFORMAÇÃO – Renata raspou os próprios cabelos para provar que técnica para tratar raiz faz diferença; durante um ano ela fará "detox" de química nos fios

Em meados do ano passado, ela raspou os cabelos loiros e prometeu ficar um ano sem química (nome da hashtag que lançou nas redes sociais). O objetivo é provar que tratar da raiz faz toda a diferença. “No começo, tratei só metade da cabeça. Em seis meses, o cabelo estava enorme”, diz. 

Renata afirma que não há regra sobre frequência ou tempo de duração do tratamento. Recomenda-se, porém, que a terapia seja adotada como um estilo de vida e não só como um paliativo até atingir um determinado objetivo. Ela tem pacientes que, inclusive, são fiéis ao tratamento há cinco anos. 

O preço sugerido da terapia por três meses é de R$ 2.600. Além de receber os cuidados no salão de beleza, o cliente leva para casa um kit de produtos específicos para dar continuidade aos procedimentos. 

Segundo o médico e tricologista Luciano Barsanti, diretor do Instituto do Cabelo, em São Paulo, o couro cabeludo deve ser lavado diariamente com movimentos circulares e na direção dos fios. Hidratações devem ser constantes: a cada dez dias nos cabelos lisos, uma vez por semana nos ondulados e duas vezes nos crespos.

Pesquisa da L’Oréal mostrou que as brasileiras são as campeãs mundiais em cuidados com os cabelos: a maioria vai ao salão a cada 15 dias, gastando em média R$ 125

De bem com a transição e com os cachos

– Segundo a cabeleireira especialista em cabelos cacheados Pâmela Maia, do Estúdio Handy, no bairro Gutierrez, em BH, paciência, hidratação e aceitação são palavras-chaves para quem quer se livrar da química e dar boas-vindas às madeixas naturais. 

– Ela reforça a importância de manter os fios hidratados, já que o s cacheados têm tendência a frizz e ressecamento. Uma opção fácil são as máscaras caseiras, que podem ser aplicadas semanalmente. Produtos sem sulfatos e petrolatos são os mais recomendados, pois limpam sem agredir.

– A aplicação de leave-in e de firmador de cachos também é fundamental para manter o penteado bonito e a aparência saudável. Na hora de dormir, ela ensina um truque: use fronhas de cetim, que diminuem o atrito dos fios e, consequentemente, o frizz. Leave-in misturado com óleo reparador de pontas também vai ajudar a manter os fios “sob controle” durante o sono

– Proprietária do Estúdio Handy, a maquiadora Thaís Pereira diz que a procura das cacheadas tem aumentado muito. “Antes, só o liso era ‘o bonito’. Mas as mulheres foram percebendo a queda da qualidade do cabelo: ressecamento, opacidade, redução da espessura do fio e até queda. Bonito agora é ser natural”, afirma

 Campanha comercial da Dove, 'Ame seus cachos', valoriza beleza natural. Veja vídeo:

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