A cara do dono: casa bonita e bem decorada não é exclusividade feminina

Patrícia Santos Dumont
24/01/2019 às 09:53.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:11
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Dilema para muitos homens, a decoração de casa não precisa ser sem graça, nem igual à de todo mundo. Pequenos ajustes na disposição dos móveis, no estilo do acervo – e uma boa dose de personalidade – são meio caminho andado para deixar o lar com a cara do dono. 

O dentista Lucas Mourão Machado, de 33 anos, por exemplo, fez questão de opinar sobre cada detalhe que desejava ver após a repaginada do primeiro apartamento próprio. Acostumado a ambientes claros e roupas brancas, elegeu uma paleta de cores mais escuras para guiar o projeto da arquiteta Nina Abadjieff. 

“Também queria uma mesa de jantar que não ocupasse tanto espaço e uma bancada na cozinha para receber os amigos. Sempre fui incentivado pela minha mãe, que é decoradora, a ter uma casa com a minha cara, com as coisas que gosto”, comenta.Fotos: Flávio Tavares (alto) e Osvaldo Castro/Divulgação

PERSONALIDADE - Arquiteta Nina Abadjieff considerou estilo do dentista Lucas Mourão Machado ao projetar decoração do apartamento. Dono do imóvel queria fugir do branco, tão presente no cotidiano dele, e ganhar mais espaço. Uma das estratégias foi instalar uma mesa de jantar retrátil, que pode ser recolhida para a parede espelhada sem ocupar a área livre da sala quando não fosse usada. “Acho muito bacana um ambiente que tenha meu estilo. Sinto-me realmente em casa”, reforça o dentista

E foi assim que o apê novo nasceu. Segundo a arquiteta responsável pelo layout, assimilar e atender os pedidos do cliente e, portanto, respeitar o gosto dele, foi essencial para criar uma decoração harmônica e que fizesse sentido naquele contexto. 

A dica vale também para projetos solo, quando a ideia é dar vida nova a um canto da casa ou à casa toda, mesmo sozinho, sem ajuda profissional. 
“Qualquer cor e material é apropriado para qualquer gênero, basta saber compor com o restante do ambiente, que pode ser simples, moderno, contemporâneo ou minimalista”, explica a profissional. 

De acordo com ela, não existe decoração de homem e mulher, mas personalidades a serem respeitadas.

Reflexo da personalidade

O arquiteto Junior Piacesi segue o mesmo raciocínio. Para ele, garantir personalidade é obrigatório para que o morador se sinta não só à vontade, como representado em cada canto da própria casa.

“A importância de um ambiente que reflita a personalidade é potencializada na sociedade contemporânea, em que o contexto favorece a sensação de ‘ser mais um na multidão’. Reconhecer-se em sua própria casa traz equilíbrio e contribui muito para que a identidade seja reforçada”, opina. 

Ele exemplifica dois projetos. Em um deles, feito para um casal homoafetivo apaixonado por viajar, a iluminação foi usada como aliada para destacar objetos trazidos dos destinos. “Foram estudados lugar ideal, cores adequadas, revestimento da parede, altura entre as prateleiras, e utilizada a iluminação certa para agregar valor às peças”, detalha.

No outro, o novo mobiliário precisou “conversar” com móveis de estilo clássico – xodó da casa antiga. “Nortearam todo o projeto, desde a escolha das cores, dos materiais e texturas do lugar, até o design da novas peças”, explica Piacesi. 

Eles preferem móveis atemporais e que sejam duráveis 

Diferentemente de boa parte das mulheres, que gostam de ousar, diversificando em modelos e cores, e escolhendo, muitas vezes, peças que são tendência, grande parte dos homens prefere apostar em artigos atemporais e, portanto, mais duráveis, quando o assunto é a decoração da própria casa.

Arquiteta em Belo Horizonte, Estela Netto diz que as escolhas guardam relação com o desejo de praticidade. Por esse motivo, segundo ela, ao elaborar a decoração de uma residência masculina é preciso considerar também os materiais que serão utilizados. “Devem proporcionar agilidade, não exigir número de funcionários tão grande para limpá-los nem requerer limpeza frequente Gosto de louça e metal”. 

Sobre o design dos móveis, a arquiteta diz que percebe uma precisão maior nas escolhas feitas pelos homens em relação às das mulheres. “O briefing é muito assertivo. Quem é mais clássico é mais clássico, quem é mais contemporâneo, mais contemporâneo. Sendo assim, não acho que exista um estilo de móveis mais masculino, mas uma postura mais pragmática e clara ao escolhê-los”, coloca.Gustavo Xavier/Divulgação

CONSTANTE MODIFICAÇÃO objetos pessoais que contassem um pouco da história e da personalidade do dono da casa. “Sem a prateleira, a parede de fundo não seria a mesma coisa. Os itens são como uma obra que vai se modificando no decorrer do tempo e dos anos”, reforça o profissional

Refúgio e conforto

Junior Piacesi também segue à risca o conceito de praticidade ao sugerir móveis e adornos que serão arrematados por clientes do sexo masculino. Para ele, a ideia é que a casa seja um local de refúgio e conforto, e não um lugar de trabalho e esforço. “O lifestyle do homem moderno requer pouca informação. Tiramos o foco da quantidade e transferimos para a qualidade com itens de fácil conservação e alta durabilidade”, afirma. 

De acordo com o arquiteto, uma linguagem arrojada, com peças bem modernas, que exploram o estilo industrial, tem refletido a decoração masculina. “Ao invés de papel de parede, de cristais e bege, fazemos uso de tijolos rústicos, de concreto e pedra e de spots, que trazem um efeito bem contemporâneo fazendo com que o ambiente ganhe um aspecto sóbrio, mas ao mesmo tempo elegante e sofisticado”, detalha o profissional. 

Leia mais:

Além disso:

Ao contrário do que se pode imaginar, as cores eleitas para um projeto masculino não precisam, necessariamente, passar pelo preto, branco ou pela paleta dos cinzas. Espelho da personalidade de cada um, podem transitar por diferentes nuances, bastando que dialoguem com o estilo do morador e, claro, da própria casa. 

“Estão muito mais ligadas ao gosto pessoal e ao estilo, àquilo que se espera experienciar no ambiente, do que ao sexo a que a pessoa pertence”, detalha o arquiteto Junior Piacesi. Ele explica que cores fechadas, mais escuras, são mais usadas como símbolo de elegância e imponência e, não necessariamente, de masculinidade. Já as claras, transmitem tranquilidade, e as quentes, encontradas nas madeiras, sensação de aconchego.

A dica do profissional ao selecionar os tons de um projeto é avaliar as diferentes experiências possíveis para um mesmo espaço. “O mais interessante é a capacidade que (as cores) têm de proporcionar uma experiência diferente em itens pontuais. Por isso, não faz absolutamente nenhum sentido a separação por sexo. Já usamos um sofá rosa, por exemplo, num apartamento projetado para um homem”, afirma.

Inspire-se no antes e depois de projetos executados pelos arquitetos Estela Netto e Junior Piacesi:Fotos Daniel Mansur/Divulgação

TRANSFORMAÇÃO 1 - Cozinha projetada por Estela Neto prova que decoração de imóveis masculinos pode ter mais que cores sóbrias, ser também prática e atemporal. “Para eles, é necessário especificar materiais práticos, que não exijam muita limpeza nem manutenção complexa”, explica a arquitetaFotos Daniel Mansur/Divulgação

TRANSFORMAÇÃO 2 - Sala de jantar do mesmo apartamento também ganhou uma cara completamente renovada, mais moderna: layout e mobiliário novos traduziram personalidade do dono da casa. Segundo Estela Netto, homens têm priorizado objetos de arte e peças assinadas, que são atemporais e duram mais tempoFotos Jomar Bragança/Divulgação

ESTILO DE SOBRA - Sala foi totalmente adaptada ao gosto dos moradores, que queriam mais espaço e integração entre os ambientes da casa. Um dos destaques é a parede de tijolinhos, que ajudou a aquecer o  local essencialmente minimalista dando também um toque de cor ao apartamento

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por