No desfile de Ronaldo Fraga, roupa com registro gráfico

Lady Campos - Do Hoje em Dia
30/10/2012 às 14:19.
Atualizado em 21/11/2021 às 17:42
 (Agência Fotosite)

(Agência Fotosite)

A roupa é uma mera coadjuvante do trabalho genial do estilista Ronaldo Fraga. Se não fosse estilista, certamente escritor, dramaturgo ou roteirista seria a profissão desse mestre em contar histórias através da moda. Dessa feita, nasceu mais um capítulo, ou melhor, a coleção inverno 2013 batizada de "Ô Fim do Cem, Fim". Esse, aliás, é o nome do livro do anônimo salinense Paulo Marques de Oliveira, considerado um louco em sua cidade, mas que, segundo Fraga, se aproxima do talento de Arthur Bispo Rosário e do Profeta Gentileza.

Nas mãos do estilista (ele ganhou três exemplares), os registros de caneta azul e vermelha de Paulo Marques contando e explicando os fundamentos do mundo em desenhos e escrita que transgride a razão fisgaram Ronaldo.

Para deleite de seu público, o estilista nos convida a adentrar em um mundo particular, que não só é capaz de revelar além do que  conhecemos de Carlos Drummond de Andrade, Zuzu Angel, Noel Rosa e outros tantos ilustres, como apresenta anônimos de uma forma poética e envolvente.

Quando as luzes se apagam, sobe a música Blecaute, de Pedro Granato, e o vestido preto em linho siliconado usado por Viviane Orth serve de primeira pista para descortinar o universo da coleção.

A expressão do negro sintetiza a escrita de Paulo Marques no capítulo sobre o dia em que a bomba atômica destruiria o planeta. A simplicidade do veludo cotelê nos apresenta também o universo singelo e afetuoso do escritor.

E o que dizer da saia e vestido com movimento de vai e vem por força de barbatanas aplicadas no comprimento das peças? "A roupa que desce, sobe, se arrasta pelo chão e se afasta do corpo, num constante delírio como é a história de Paulo Marques", explica Fraga.

Curiosamente, a cartela de azul e vermelho do traço de escritor na página branca se desdobra em magenta, roxo e laranja, pinceladas que dão vida a vestidos de linhas de shape anos 50, data em que o livro foi escrito.

O bordado, que mais parece mandala, de Stella e equipe de Itabira que o acompanham desde a coleção Drummond, também é registrado na roupa e não está ali por acaso. "É o furo do mundo no qual Paulo cita em seus registros", acrescenta.

O colorido de tricô, bordados e outras artesanias dá vazão até mesmo o idílico desenho de casinhas com detalhes como fendas na roupa, que segundo Fraga representa a cidade de Salinas e suas casas à noite.

As tranças, trabalho de make up e cabeleireiro Marcos Costa, traduzem uma espécie de uma camisa de força quando enroladas como colares nos pescoços das modelos, assim como a manga raglan de camisas e vestidos.

Dobraduras de tecidos como páginas decorando frente e costas da roupa e brincadeira de roda na passarela finalizam a apresentação de "Ô Fim do Cem, Fim.." no inverno 2013 do SPFW. "Uma enciclopédia que ilustra todos os campos dos saberes e nos faz refletir sobre a escrita pessoal como instrumento de libertação do indivíduo. Assim como deveria ser a moda", conclui Fraga.

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