O estilo kitsch do filme protagonizado por Jane Fonda e a entrada nos 50 anos podem dar a impressão de que Barbarella ficou refém de seu tempo, a libertária década de 1960. Um dos primeiros ícones do feminismo saídos dos quadrinhos e do cinema, a sensual viajante espacial que usava o sexo como forma de dominar seus inimigos ainda continua sendo uma referência para a mulher de hoje.

“O empoderamento da mulher através do sexo continua muito atual”, observa Marília Moschkovich, socióloga e editora do blog Mulher Alternativa.

Ela contesta a corrente que critica uma possível “objetificação” da mulher na criação do francês Jean-Claude Forest (1930-1998), que lançou a personagem na revista V-Magazine. “Barbarella não é objeto de ninguém. Ela está no controle, mas choca, inclusive as femininas, porque sua sexualização é explícita”.

Marília salienta que, desde pequenas, as mulheres são ensinadas que o certo “é fechar as pernas e não dormir na primeira noite com seu namorado”. Para a socióloga, um dos principais avanços do feminismo foi justamente com relação à forma de lidar com o sexo.

Advogada e juíza do trabalho aposentada Comba Marques Porto, que também administra blog sobre feminismo, destaca que Barbarella fez um contraponto importante numa época em que as mulheres ainda sofriam preconceito, mas alerta que é preciso ter muito cuidado na hora de analisar o empoderamento através do sexo.

“É preciso não confundir as coisas. Tem mulher que acha que está agindo de forma libertária e não está. Um exemplo? Nos bailes funks, quando as meninas fazem fila para os homens encostarem nelas. É completamente contrário à valorização da autoestima da mulher”, avalia.

Esse tipo de atitude, segundo Comba, acaba desumanizando o sexo. “O corpo nos pertence, como pichávamos nos muros durante a década de 1980, mas é preciso saber usá-lo”, defende.


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