Crueldade dos personagens cria nojo nos espectadores

Paulo Henrique Silva - Do Hoje em Dia
09/07/2012 às 10:50.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:25
 (Lume/Divulgação)

(Lume/Divulgação)

O fato de “Trio Infernal” ter sido tão mal recebido na época de seu lançamento, em 1974, talvez se explique pela ausência de justificativas e punições em sua narrativa.

Ao basear-se na história verídica de um trio de criminosos que fraudava seguros, na década de 1920, o diretor francês Francis Girod, em sua estreia em longas-metragens, concentrou-se na crueldade dos atos, detendo-se longamente na preparação de assassinatos.

Uma das cenas que provocaram repugnância na plateia é a que o advogado Georges Sarret (Michael Piccoli) e as irmãs Philomene (Romy Schneider) e Catherine (Mascha Gonska) matam um casal de parceiros durante uma noite de Natal.

Não é a morte que assusta, mas o que é feito depois, com os corpos postos em banheiras, onde é jogado ácido sulfúrico. Mais tarde, o trio removerá os pedaços com baldes para serem enterrados no jardim.

Girod não está interessado em mergulhar no passado dos personagens para encontrar algum trauma que justifique tal atitude de desprezo com o ser humano.

Como soldado da Primeira Guerra, Sarret poderia muito bem ter voltado paranoico do front, psicologia adotado em muitos dramas de guerra, especialmente a do Vietnã. E, quanto às irmãs, só sabemos que elas não querem voltar para a Alemanha, em crise pela derrota na guerra.

Quem pesquisar o caso, relatado no livro de Solange Fasqualle, em que o filme se inspirou, tomará conhecimento sobre o desfecho, que atenderia muito bem a um princípio moral. Girod, porém, foca na relação doentia do trio e, em especial, na forma como Sarret consegue manipular a todos usando a boa reputação, o diploma de Direito e a boa lábia. Desde o início, sabemos que é uma pessoa abjeta, sem nenhum escrúpulo.

Poderia resultar num estudo psicológico sobre a burguesia, como os filmes de Claude Lelouch, mas o realizador não permite entrarmos na mente dos criminosos. Ao final, deixa mais perguntas do que respostas. E o tom farsesco pode ser entendido como um atenuante, quando, na verdade, Girod quer criar o choque entre sofisticação e maldade a partir de doses de humor negro, acentuadas na trilha sonora de Ennio Morricone.

Precursor de “Trio Infernal”, o americano “Bonnie & Clyde”, de 1967, também incute humor e certa romantização da criminalidade, mas não há impunidade.

A perversidade evidenciada no francês tem seu parente mais próximo em Quentin Tarantino, principalmente “Bastardos Inglórios”, devido ao voyeurismo em torno da brutalidade, no que vem antes e depois de um ato de violência extrema.

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