Elenco multinacional é chamariz em "360", de Fernando Meirelles

Paulo Henrique Silva* - Do Hoje em Dia
14/08/2012 às 11:02.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:26
 (Divulgação)

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Cineasta brasileiro de projeção internacional, Fernando Meirelles recebeu carta branca em “360”, que estreia sexta-feira (10) no Brasil. Tanta liberdade, porém, teve custo: o diretor teve que, sozinho, contatar os atores para um filme falado em várias línguas e passado em cidades diversas do mundo.

Para isso contou com a ajuda de um site que baixa filmes. “Mas foi por uma boa causa”, diverte-se Meirelles, em Gramado, onde o filme foi exibido. Em entrevista, ele destrincha o quebra-cabeças para fechar o elenco, que tem Jude Law, Rachel Weisz e Anthony Hopkins, e revela que ficou frustrado por não poder desenvolver certas histórias, devido ao formato do filme. Confira.

Elenco

“Um dos aspectos que me fez topar dirigir o filme foi a possibilidade de trabalhar com gente muito boa. O alemão Moritz Bleibtreu, já conhecia de “Corra Lola, Corra” e “Munique”. Vladimir Vdovichenkov é o caso mais interessante. Da Rússia, não conhecia quase ninguém. Meu assistente passou a baixar filmes e achou um do Vladimir. Baixamos outro, sem legenda, que eu vi em casa e achei extraordinário. Foi difícil entrar em contato com ele. Descobrimos que é o Wagner Moura de lá. O agente nos disse que o que cachê que oferecíamos não representava um décimo do que ele ganhava na Rússia. Mas falando diretamente com o ator, deu tudo certo”.

Jamel Debouze

“Foi a primeira pessoa que escolhi. Quando vi que precisaria de um francês muçulmano, pensei no Jamel. Como estava em turnê como cantor, adiamos as filmagens em dez dias para tê-lo por três. Trabalhar com ele me fez descobrir seu “truque”. Seu olha brilha, parecendo que está meio molhado. Em geral, o fotógrafo usa a “high light” para iluminar apenas os olhos, mas o James tinha um “high light” próprio”. (risos).

Anthony Hopikins

“A ideia era que fizesse um inglês de classe média. Mas ele queria fazer ele mesmo. Na sequência em que está numa espécie de AA (Alcoólicos Anônimos), fez um discurso em que estava falando sobre seu passado”.

Roteiro

“Pediram ao Peter (Morgan, roteirista) para fazer um texto em comemoração aos centenário do dramaturgo austríaco Arthur Schnitzler. Ele leu “Reigen”, mas não queria fazer uma adaptação. Porém, viu semelhanças com a vida dele, como o fato de morar em Viena, estar sempre em Londres e viver em aeroportos e hotéis. Não mexi em praticamente nada no texto e, por isso, acho o filme mais dele do que meu. Nas filmagens, o Peter aparecia muito para dar uns palpites. Na montagem, falávamos 40 minutos por dia via Skype”.

Tema central

“Na década de 1930, Freud lançou um livro que falava do mal-estar da civilização. Isso sempre me inquietou. Essa questão de sublimar nossos desejos não saiu da minha cabeça. É o tema principal do filme. Gostei de não ter um antagonista. Ele está dentro de cada um dos personagens. Eu os acompanho até o momento em que têm que fazer uma escolha”.

Filme coral

“Foi muito prazeroso fazer, são como nove filminhos diferentes. Um mais puxado para a comédia, outro para ação. Pude brincar com os gêneros. Mas não faria novamente um filme “coral”. Tem um lado frustrante. Cada história tinha assunto para se desenvolver muito mais. Só que não havia tempo. Em oito, nove minutos tive que dar conta dos personagens e depois abandoná-los. Queria mostrar a vida pregressa deles... Isso foi duro”.

Robert Altman

“Sou grande fã de Robert Altman, é uma das minhas referências. Mas seus filmes são mais longos, o que ajuda (no desenvolvimento da história). Ele praticamente só fez filmes “corais” e eu sonhava fazer algo do tipo. A diferença é que meu filme tem um gancho e os dele eram mais soltos, unidos apenas pelo universo que o filme retratava, como a música country ou a moda em Paris”.


*De Gramado (RS)

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