François Ozon parte para o realismo fantástico em "Ricky"

Paulo Henrique Silva - Do Hoje em Dia
06/08/2012 às 12:00.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:12
 (Califórnia/Divulgação)

(Califórnia/Divulgação)

François Ozon tem uma carreira incomum: chegou para os espectadores brasileiros como autor de dramas ásperos como "Gotas de Água em Pedras Escaldantes" (2000), de clara inspiração fassbinderiana, e "Sob a Areia" (2000), mudando radicalmente de estilo em "Angel" (2007) e "Ricky" (2009), este último lançado recentemente em DVD e Blu-Ray pela distribuidora Califórnia.

Cada vez mais se aproximando dos artifícios do gênero, como o melodrama em "Angel", Ozon parte para o realismo fantástico em "Ricky". Não aquele de cunho histórico, irônico e recheado de camadas que acostumamos a ler em textos de escritores latino-americanos.

Protagonizado por Alexandra Lamie e Sergi Lopez, o filme é leve, apesar do cenário em que seus personagens trafegam: o proletariado francês. Diferentemente do compatriota Robert Guédiguian, que dá acento socialista às suas histórias, Ozon não pretende discutir os valores corrompidos pelo capitalismo.

A trama se interessa mais por se aprofundar numa situação absurda, que não vale a pena contar para não estragar a surpresa – só podemos adiantar que envolve o bebê Ricky, o quarto elemento de uma família aparentemente fragmentada, em que a mãe, Lisa (Alexandra), vive a um passo de perder o emprego.

Logo de cara, Ozon faz o espectador julgar a personagem. A primeira cena mostra Lisa tentando dar o filho para a assistência social. Na cena seguinte, ela custa a se levantar da cama para trabalhar, com a filha preparando o café e praticamente a forçando a sair de casa.

Mais: no primeiro dia em que conhece um novo colega de trabalho (Lopez), Lisa transa com ele no banheiro da fábrica. Do outro lado, está a filha de sete anos que parece ser mais responsável do que a mãe.

Quando dá indícios de que irá mergulhar num drama sobre a falência da estrutura familiar, "Ricky" dá uma guinada surpreendente, que cativa o público pelo caráter insólito e pela maneira como os personagens se deixam conduzir por essa reviravolta. No final das contas, percebemos que a novidade é apenas uma forma de chamar a atenção para o verdadeiro protagonista, dentro de um formato engenhoso e lúdico.

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