(Warner Bros./Divulgação)
A galeria de excentricidades de Tim Burton já atravessa três décadas. Desde os seus primeiros curtas, no início da década de 1980, como a animação "Frankeweenie" que o diretor americano evidencia uma particular predileção por bizarrices, envolvendo histórias surreais e personagens entre a loucura e a fantasia, como "Batman" e "Alice no País das Maravilhas".
Com "Sombras da Noite", principal estreia desta sexta-feira (22) nas salas do país, Burton revisita um personagem recorrente no cinema: o vampiro. Na verdade, esse ser já tinha dado as caras em outros trabalhos, que, na verdade, mais prestavam homenagem a atores (Vincent Price, Christopher Lee e Bela Lugosi) do que desenvolviam o mito.
Evidentemente que Burton não seria tolo em adaptar as obras consideradas definitivas sobre o tema, como "Drácula" e "Nosferatu", buscando um viés moderno de desconstrução calcado mais na irreverência do que no horror.
Seriado de TV
Inspirando-se num seriado televisivo da década de 1960, o realizador faz nova dobradinha com Johnny Depp para dar veracidade à junção entre monstruosidade e humanismo. A graça do filme está nesse choque, aliado a um elemento temporal.
Amaldiçoado por uma bruxa, Barnabas Collins acorda dois séculos depois, carregando um ar tipicamente inglês (aristocrático e arrogante) numa época – os anos de 1970 – em que os principais valores da sociedade estão em xeque, como a noção de família e o amor à pátria.
O vampiro de bom coração encontra seus descendentes quase à bancarrota, entre eles Elizabeth (Michelle Pfeiffer, que, em 1992, já vestiu a pele de Mulher-Gato sob a direção de Burton) e a adolescente Carolyn (Chloë Moretz, de "Kick-ass – Quebrando Tudo").
Costumes dos anos 1970 inspiram alguns momentos de humor da fita
Para enfrentar a bruxa Angelique Bouchard (interpretada pela francesa Eva Green, de "Os Sonhadores"), uma capitalista inescrupulosa, Barnabas juntará os cacos da família, fazendo-os sair de seu individualismo para defender a honra dos Collins.
Antes, claro, o personagem de Johnny Depp terá que se adequar aos novos tempos, tomando iniciativas como as de destruir o aparelho de TV que exibe uma apresentação do duo Carpenters ou matar hippies, apesar de gostar do papo deles.
Michelle Pfeiffer volta a atuar sob a batuta do diretor, agora como Elizabeth Collins
Pegada infantiloide
As piadas divertem mas se revelam pouco substanciais à narrativa, acentuando uma pegada meio infantiloide. Uma personagem que parecia importante, justamente o pivô romântico, desaparece no meio da trama.
Já a bizarrice peculiar a Tim Burton soa, ao final, como um repeteco de "Ela é o Diabo" (1989), de Robert Zemeckis, injetando humor negro a um confronto que põe a casa abaixo e mostra que, para aqueles que querem o poder da juventude eterna, há um preço altíssimo a pagar. No formato de série, o enredo poderia render mais, com a excentricidade agora comportada de Burton assetando-se melhor e desdobrando o lado referencial. Evidentemente, o elenco inclui o nome da senhora Tim Burton, a britânica Helena Bonham Carter, além de Bella Heathcote, Gulliver McGrath e outros.