Mineiros disputam Candango no 45º Festival de Cinema de Brasília

Paulo Henrique Silva - Do Hoje em Dia
17/09/2012 às 11:03.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:20
 (Mais Valia - Marco Túlio Ramos )

(Mais Valia - Marco Túlio Ramos )

Ter um filme entre os concorrentes do Festival de Cinema de Brasília é um reconhecimento e tanto para quem está estreando. Mas um grupo de realizadores mineiros quer mais: ser chamado ao palco, ao final do festival mais antigo do país, para receber um Candango.

A 45ª edição começa nesta segunda-feira (17) com quatro produções de Minas na competição, três assinadas por debutantes. Na categoria animação em curta, concorrem "Mais Valia", de Marco Túlio Ramos Vieira, e "Valquíria", de Luiz Henrique Marques Gonçalves.

O outro filme de Minas Gerais é "Empurrando o Dia", do trio Felipe Chimicatti, Pedro Carvalho e Rafael Bottaro, no páreo do quesito documentário em curta. O único veterano da turma é Cao Guimarães, que compete com um filme bastante pessoal, "Otto", entre os documentários em longa.

Além do sonho de entrar para o panteão dos vencedores, o ponto em comum entre esses trabalhos é o baixo custo, que possibilitou a realização sem recorrer a leis de incentivo.

"Valquíria"

No caso das animações, os diretores tiveram a estrutura oferecida pela Escola de Belas Artes da UFMG, "o mais antigo curso de animação do país", como frisa Gonçalves. Seu filme é resultado do trabalho de conclusão de curso, usando a técnica de stop-motion com peças de metal (no lugar da massinha) feitas a mão.

Gonçalves se baseou no trecho do libreto da ópera "O Anel do Nibelungo", de Wagner, em que o pai pune a filha Brunhilde por ter ajudado o irmão, devendo dormir no centro de um circulo de fogo até que alguém venha resgatá-la. "Pesquisei sobre os mitos escandinavos, como as Valquírias e o deus Odin, e desenvolvi a história", registra.

O próprio diretor construiu bonecos e cenários, usando o computador para fotografar as cenas e inserir nuvens nos quadros. O filme participou do festival Anima Mundi, um dos mais importantes do gênero, assim como "Mais Valia", de Vieira. Os dois foram colegas na UFMG e colaboraram no trabalho do outro.

"Mais valia"

A diferença é que Marco Túlio Ramos Vieira partiu para outra técnica, o desenho tradicional em duas dimensões (2D). Apesar de o título "Mais Valia" remeter ao termo usado por Marx para definir a essência capitalista (em outras palavras, a necessidade de lucro), o diretor afirma que o filme vai além, abraçando o dilema existencial de um macaco.

No meio do caminho de "Mais Valia", uma pedra de nome "Linear"

O macaco em questão receia abandonar um trabalho estável, mas do qual não gosta (muito por conta do chefe porco, literalmente), para se dedicar à música. "Nunca passei por esse problema, mas muitos amigos sim", lamenta.

O obstáculo para a dupla faturar o troféu de animação é "Linear", de Amir Admoni. "O filme virou o xodó dos festivais e é favorito em Brasília também", analisa Gonçalves.

O caminho também não será fácil para os realizadores de "Empurrando o Dia". Entre os mais cotados estão os pernambucanos "A Onda Traz, o Vento Leva", de Gabriel Mascaro, e "Câmara Escura", de Marcelo Pedroso. Pela sinopse do filme mineiro é possível fazer uma relação com a vertente dos documentários experimentais e poéticos sobre anônimos que Minas vem produzindo.

O jornalista Chimicatti assinala que é a conexão é possível, já que o curta tem muito de subjetividade na maneira como tenta mostrar o sujeito mineiro. "A intenção é documentar o interior do Estado e encontrar uma constituição regional, sem especificar os locais, como no poema de Drummond, Uma Cidadezinha Qualquer", explica.

O filme não tem personagens fixos, sendo o tempo, segundo Chimicatti, o protagonista. O diretor, assim como Rafael Bottaro, estreia atrás das câmeras. Pedro Carvalho fez "Um Olhar Passageiro", exibido na última Mostra de Tiradentes. Apesar de ter mais experiência, não houve divisão de funções, com o trio participando de todas as etapas.

Além disso

"Otto" é o filme mais pessoal de Cao Guimarães, dos premiados e elogiados "O Andarilho" e "Ex Isto". Acompanha a gravidez da mulher, a uruguaia Flor, até o nascimento de Otto, atento principalmente às transformações no corpo da mulher. "É como um diário filmado que busca transformar um assunto particular em algo de interesse amplo", define. Guimarães começou filmar a gestação sem pensar num trabalho para o grande público, mas descobriu que representava "interessante cadeia narrativa que culminava no nascimento".

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por