O Anima Mundi está de volta com filmes, oficinas gratuitas e palestras

Paulo Henrique Silva - Do Hoje em Dia
21/08/2012 às 10:52.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:37
 (Divulgação)

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Com mais de 40 prêmios recebidos em festivais internacionais e fundador da Filmógrafo, um dos principais estúdios de animação em Portugal, Abi Feijó está preocupado com o futuro do gênero em seu país.

A razão é a crise econômica. " Estamos a passar por dois ou três anos terríveis sem qualquer tipo de apoio, o que poderá traduzir-se na falência de muitos estúdios portugueses", lamenta, em entrevista ao Hoje em Dia, por e-mail, pouco antes de embarcar para Belo Horizonte.

Ele é uma das atrações do Anima Mundi BH, versão itinerante de um dos maiores festivais de animação do mundo, com início nesta terça-feira (21), às 19 horas, na Praça da Liberdade.

Referência

Feijó ministrará o workshop "Animação em Multiplano" e falará, no programa "Papo Animado", sobre a carreira iniciada em 1985 com o curta-metragem "Oh que Calma", quando ainda era estagiário da National Film Board do Canadá, referência na animação de autor.

"Não temos indústria de animação em Portugal. Em toda a nossa história fizemos apenas dois longas e poucas são as séries produzidas – e mesmo essas são sempre de reduzidas dimensões e com grandes dificuldades de penetração no mercado", analisa.

Com a Filmógrafo e a Ciclope Filmes, fundada em 2002, porém, ele ajudou a formar uma geração de talentosos animadores em curta-metragem. Trabalho que culminou na "afirmação e no reconhecimento internacional", como faz questão de frisar.

Dois mundos

"Há dois mundos muito distintos dentro do cinema de animação", observa Feijó: aquele voltado para crianças, dominado hoje por Pixar, Dreamworks e BlueSky, e os curtas-metragens autorais. "No primeiro caso existe um grande mercado, não só nos Estados Unidos, mas em termos mundiais, com 99% destas produções se destinando majoritariamente a um público mais ou menos infantil, o que vem reforçar a ideia comum de que a animação é para crianças".

Esse mercado é real e move muito dinheiro, "com seus protagonistas conseguindo ganhar muito bem a sua vida", diferentemente dos que trabalham no segundo grupo. "Nesse, os filmes são feitos para o público adulto e passam fundamentalmente no circuito de festivais. Apesar de serem muito mais ricos e interessantes, tanto ao nível de conteúdo como da sua enorme diversidade técnica e estética, não têm mercado praticamente nenhum".

Militantes lutam para manter vivo o gênero

Ao mesmo tempo que o cinema de autor conta com "os trabalhadores mais mal pagos que eu conheço", nas palavras de Feijó, o segmento reúne "os mais entusiastas, militantes e generosos". Realidade que não é diferente no Brasil, onde os poucos animadores lutam para manter o gênero de pé. Feijó acompanha o trabalho de alguns realizadores como Otto Guerra,Tânia Anaya e o Núcleo de Animação de Campinas, entre outros.

Foi o brasileiro Marcos Magalhães quem lhe abriu o caminho para aprender as técnicas de animação na National Film Board do Canadá. "Fiz o estágio lá um pouco graças ao Marcos. Eu tinha visto o seu filme Animanado e reparei que, no letreiro final, dizia que a produção tinha sido feita durante estágio no NFB. Então pensei: se ele foi, eu também quero ir", recorda o diretor português.

"Houve duas coisas que aprendi e que me ajudaram muito durante toda a minha vida profissional. A primeira foi ter confiança em mim. Fiz alguns workshops com o professor belga Gaston Roch, que era muito exigente. Na prática, isso me assustava. No Canadá, eram mais pragmáticos e disseram-me para 'fazer o melhor que sabes, mas dentro do tempo que tens disponível'", observa.

A segunda lição está ligada à primeira: "Se deres o teu melhor, se te esforçares verdadeiramente, quem vier a ver o teu filme de alguma forma irá sentir esse empenho e essa força. Na prática, quer dizer que tudo depende de ti e da maneira como te posicionas e te empenhas no teu trabalho", afirma Feijó, que usou diversas técnicas, como o grafite sobre papel, em "Os Salteadores" (1993), e a areia com imagens texturizadas, em "Clandestino" (2000).

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