Remédio contra a caretice, "Febre do Rato" estreia nesta sexta-feira

Paulo Henrique Silva - Do Portal HD
04/09/2012 às 10:50.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:00
 (Imovision/Divulgação)

(Imovision/Divulgação)

"As minhas tintas servem ao quadro que ele pinta. Adoro experimentar novas cores na tela dele". Quem faz o papel de paleta, no caso, é o ator Matheus Nachtergaele, um dos atores-fetiche do polêmico diretor pernambucano Cláudio Assis, que vem a ser o "pintor" em questão.

Nachtergaele, que entrou para a "família artística" de Assis em "Amarelo Manga" (2003), primeiro longa-metragem do cineasta, põe seu parceiro nas alturas ao falar do novo trabalho, "Febre do Rato", com estreia nesta sexta-feira nos cinemas de Belo Horizonte.

Ele se sente um privilegiado por ganhar "um palco especial para seu experimento". "Ganham todas as partes. O diretor vai de alguma maneira formando um ator para o seu vômito. Já o público assiste ao desenvolvimento e aprofundamento dessa relação".

Boa raiva

A sintonia entre Assis e Nachtergaele está, principalmente, no que o ator chama de "uma boa raiva". O título do filme mais recente traz bem essa ideia: "febre do rato" é uma expressão típica de Recife, usada para definir alguém fora do controle.

Interpretado por Irandhir Santos, o poeta Zizo carrega essa "febre". É um anarquista. Assim como Assis, que estabelece uma espécie de utopia poética e pansexual. "A vida é desse jeito, não sei enganar. Não faço cinema para Hollywood, para ganhar Oscar, para agradar...", avisa o diretor.

Vocação que seduz os atores. "É bom sacudir um pouco e espantar as pessoas. Num filme do Cláudio, você sai mexido, igual saímos dos filmes do (Jean-Luc) Godard. A gente sai esquisito, com as imagens permanecendo na nossa cabeça, o que é espetacular", assinala Maria Gladys.

Caixa dágua

Veterana atriz dos filmes de Júlio Bressane e Rogério Sganzerla, hoje com 73 anos, Gladys surge em fortes cenas de sexo com Santos, em uma caixa d’água. "Tem atrizes que pedem para filmá-las de lado. Meus filmes não têm isso. É um cinema sem concessões. Não boto nu para chocar. A cena do xixi é pura poesia", defende Assis.

O diretor está falando da sequência em que Nanda Costa, na pele da provocativa Eneida, atende o pedido de Zizo para vê-la urinando. Assis desmente que Maria Flor teria desistido do projeto ao saber que teria que fazer a cena.

"A Flor sempre esteve junto e pirou com a cena. Como mudamos a data de filmagem e ela estava gravando a série Aline, acabei ficando sem atriz", explica.

Filmagens tumultuadas

Por muito pouco, Cláudio Assis e equipe não foram presos durante a filmagem. Eles estavam no bairro recifense de Boa Vista, para a sequência em que Zizo incita as pessoas a ficarem completamente nuas no meio da rua.

"Estava tudo controlado, com as ruas fechadas. Só que alguém de um apartamento ao lado viu a cena em que Irandhir reagia aos soldados-atores e ligou para a polícia. Apareceram nove carros e dez motos da PM. Foi um pânico", lembra.

A produção tirou o ator para que ele não fosse preso por atentado ao pudor, bem como escondeu os negativos. "A sorte é que o comandante deles me conhecia, de Amarelo Manga, e apaziguou os subordinados", relata.

Gueto

Contrário ao gueto que os filmes pernambucanos estão sendo lançados ("nosso cinema é universal, mas querem segregar", lamenta), Assis adianta que seu próximo longa-metragem não será menos forte. "Vou falar de outro tipo de violência, do homem invadindo o mar e o mar tomando tudo de volta".
 

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