Graveola e o Lixo Polifônico leva seu gingado à Grécia

Cinthya Oliveira* - Do Hoje em Dia
23/10/2012 às 10:46.
Atualizado em 21/11/2021 às 17:28
 (Divulgação)

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De Tessalônica, Grécia – A movimentação de europeus interessados em levar discos para casa, os sorrisos, os abraços e os elogios calorosos foram claras provas de que a noite mineira na World Music Expo – Womex foi um sucesso. As apresentações de Graveola e o Lixo Polifônico, Thiago Delegado e Makely Ka, no último sábado (20), atraíram um bom e animado público a um espaço localizado na Helexpo, um centro de convenções da cidade de Tessalônica, na Grécia.

A noite mineira foi uma ação do Programa Música Minas, uma parceria entre o Fórum da Música de Minas Gerais e a Secretaria de Estado de Cultura. Essa foi a primeira vez em que houve um investimento para que artistas mineiros pudessem apresentar showcases dentro da programação da maior feira do mundo dedicada à wold music.

No final da terceira apresentação, o sentimento entre músicos e produtores que fizeram essa ação acontecer era de dever cumprido. "Muitas pessoas elogiaram, afirmando que os três shows representavam bem a diversidade da cena musical mineira", afirma Lailah Gouveia, coordenadora da ação internacional do Música Minas.

Dezenas de produtores da Europa e Estados Unidos, especialmente, já indicaram interesse em fazer negócios após o contato com os artistas mineiros. "Recebemos convites para participar de outras feiras e festivais, como o Circulart, na Colômbia, MED, na Itália, e FIM, do México. Também estamos negociando levar dois artistas para o festival de Montreux (Suíça)", adianta Lailah.

Panfletagem

Os showcases mineiros foram reunidos no espaço Off-Womex, que nem sempre consegue atrair grande público. "O Off normalmente não tem tanto público, mas a nossa experiência foi inversa. Os shows ficaram lotados e a ação de Minas foi considerada como exemplar", diz Lailah.

Para que o público comparecesse, os músicos fizeram panfletagem por toda feira. Thiago Delegado, por exemplo, fez questão de visitar 100% dos estandes. Seu showcase foi bastante prestigiado, com dezenas de pessoas conferindo a apresentação.

"Fui a todos os estandes de managers, jazz, festivais, para convidar para o meu show. Não adianta tentar explicar como é o meu som, a pessoa tem que conferir o show para entender", afirma Thiago Delegado.

O violonista acredita ter feito a diferença por apresentar uma formação original de grupo instrumental: Sérgio Danilo na flauta, Christiano Caldas no piano, Ricardo Acácio no pandeiro e Aloizio Horta no baixo.

"World music é aquela música que chega a qualquer lugar do mundo. Nesse sentido, a nossa música se encaixa bem à proposta do evento, é música brasileira com um pouco de jazz", afirma o violonista.

Graveola abre portas com circuito europeu

Para o Graveola, tocar na Womex foi um importante passo. "Com essa experiência, passamos para outro patamar, para fazer um trabalho na Europa com uma maior visibilidade", afirma o vocalista e guitarrista José Luis Braga. O sexteto aproveitou a viagem para fazer outros shows em Portugal, França e Inglaterra.

"Agora, poderemos voltar à Europa com uma maior sustentabilidade. Até o momento, nossas viagens internacionais têm sido de investimento", diz a percussionista Flora Lopes.

Visibilidade

Em Portugal, país onde a banda já toca há alguns anos, o Graveola já conquistou boa visibilidade, com direito a reportagens em importantes órgãos da imprensa.

Com os contatos feitos na Womex, a banda se aproxima de um circuito ainda mais profissional. "Foi uma ótima experiência vir numa feira de alto nível, onde tudo é 'top'. Tivemos contato com os melhores produtores e equipamentos. Não tinha tido ainda a oportunidade de ver algo de tão alto nível", afirma o baixista Bruno de Oliveira.

O retorno obtido com o showcase não é bom só para o Graveola, mas para toda a cena de pop rock de Belo Horizonte. "Estamos abrindo portas. Sempre dizemos nas entrevistas que fazemos parte de uma cena linda, que precisa ser mais divulgada. Temos a responsabilidade de representar e promover as outras bandas", diz Braga.

Intercâmbio

Mais do que negócios, uma feira como a Womex permite um grande intercâmbio cultural. Para o Graveola, banda que mistura sonoridades, o contato com novidades pode ser musicalmente enriquecedor. "O grupo tem a característica de absorver diferentes influências e misturá-las", afirma Flora.

A banda pôde conferir sonoridades completamente novas. "Vimos estímulos do mundo inteiro, como Irã e Mali. E é importante ter estranhamento e desconforto ao ouvir esses sons tão diferentes porque depois isso pode se transformar em admiração. São músicas que não tivemos acesso antes por esbarrar em barreiras étnicas e culturais".

Viagem sonora do sertão a Tessalonica

Makely Ka realizou um show na Womex num momento especial de sua carreira. Após quatro anos de envolvimento com políticas públicas (Fórum da Música de Minas, Cooperativa dos Músicos de Minas, entre outros), decidiu se concentrar novamente ao seu trabalho musical.

Viajou por mais de 40 dias pelo sertão mineiro e levou a experiência para o palco, explorando a linguagem especial das veredas roseanas.
 
Makeli levou sua sonoridade mineira, embebida na linguagem roseana, até o público internacional (Foto: Divulgação)

"Arriscado"

Em Tessalonica, contou com Rodrigo Torino (viola de 10 cordas, ukulelê), Rafael Azevedo (violão aço, baixolão), Alcione Alves (percussão), Yuri Vellasco (percussão) e Ulisses Moisés (MPC e efeitos).

"Foi um show arriscado porque trabalhei novidades no repertório, como a moda de viola 'Itinerário Tatarana', falando das cidades por que passei durante a viagem", diz Makely Ka. "Os shows feitos na Womex surpreenderam por não seguirem os arquétipos da música brasileira. No meu caso, eu trouxe comigo o sertão".

Convites

Com o trabalho feito na Womex este ano, Makely conquistou convites para tocar no México, Holanda, Canadá, Portugal e França. Outros lugares onde ele poderá explorar os caminhos do "Cavalo Motor", um trabalho multiartístico que culminará em um disco, um livro e uma exposição fotográfica.

"Nesse momento, toda imprensa está centrada no Pará, que é o 'hype' do momento. Mas o que estamos fazendo em Minas é diferente. É história. É um trabalho gradativo de construção de uma cena muito significativa", afirma Makely, para quem os três showcases tinham uma identidade mineira, mesmo sendo representantes de sonoridades muito diferentes. "Nossa música não é classificável, mas todos identificam como de Minas".

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*As passagens da repórter foram custeadas pelo Edital de Intercâmbio do Programa Música Minas para a cobertura jornalística da Womex.

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