"Made in Japan": 40 anos de um clássico do Deep Purple

Marcelo Ramos - Do Hoje em Dia
13/08/2012 às 10:21.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:25
 (Arquivo Hoje em Dia)

(Arquivo Hoje em Dia)

Qual é o melhor disco de rock de todos os tempos? Difícil dizer, mas se a pergunta for: Qual é um dos melhores registros ao vivo nos últimos 40 anos? Aí a resposta seria "Made in Japan", do Deep Purple. Gravado nos dias 15 e 17 de agosto de 1972, em Osaka e Tóquio, mas lançado apenas em março do ano seguinte, trata-se de uma obra impecável. Não apenas pelo repertório, mas principalmente pela execução de cada uma das sete faixas que compõem a produção. Há quem brade afirmando que "Live at Leeds" (The Who), que figura na lista dos melhores 500 discos da história, pela revista Rolling Stone, ou "The Song Remains the Same" (Led Zeppelin) sejam mais importantes. Mas é inegável a grandeza de "Made in Japan".

Quando se escuta todo o disco é perceptível que o Purple fez o que quis diante do educado público japonês, que se limitava a aplaudir após cada interpretação. Basta notar a duração de cada uma das faixas: tirando "Highway Star", que abre o disco e tem 6m41s, todas as demais não têm menos de sete minutos. "Space Trucking" tem quase 20, sendo que mais de 10 de pura vertigem, principalmente do pianista (tecladista é coisa de bicão que anima churrascaria) Jon Lord, músico de formação erudita e que sempre foi o mentor intelectual do grupo, mesmo que o virtuosismo e o ego de Ritchie Blackmore muitas vezes se colocassem à frente.

O que chama atenção no álbum são os diversos duelos de solos entre Lord e Blackmore. Praticamente em todas as faixas, um abre e o outro conclui. E a dobradinha também se dá entre o guitarrista e o vocalista Ian Guillan, que acompanha o colega com agudos no mesmíssimo tom de sua Fender Stratocaster em "Strange Kind of Women".

A sugestão é ouvir o álbum duas vezes seguidas. Na primeira, deve-se prestar atenção aos solos, e na segunda, focar na condução do contrabaixista Roger Glover e do baterista Ian Paice, além das colaborações tanto do pianista, quanto do guitarrista, quando o outro está em destaque. É muito legal a percepção do entrosamento dos instrumentistas e na forma em que mantêm a base harmônica impecável.

Apesar de "Highway Star" e "Smoke on the Water" serem as canções mais famosas do disco e terem ganho execuções generosas, o ouvinte não deve desprezar a versão de "Child in Time", que mesmo que seus primeiros minutos sejam lentos, quando a música "enche" se torna um espetáculo. Outra que merece audição criteriosa é "Lazy". Apesar da estranha e barulhenta abertura, a música evolui para uma deliciosa melodia de órgão Hammond acompanhada pelos pratos de Paice para, em seguida, abrir espaço para uma guitarra sutil. E quando a banda toda se junta, é uma quebradeira veloz, inclusive com Guillan na harmônica, que só finda com os aplausos. Para os fãs de bateria, "The Mule" é uma aula.

Definitivamente, "Made in Japan" é um disco para quem gosta muito de rock’n’roll, pois nem todo mundo tem paciência para analisar solos e experimentalismos intermináveis. Mas mesmo para quem não é muito roqueiro, ouvi-lo pela primeira vez é uma grata surpresa. Comigo tem sido assim há mais de 20 anos.

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