"Sonny's Crib", uma das grandes referências do jazz, completa 55 anos

Marcelo Ramos - Do Hoje em Dia
17/09/2012 às 10:25.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:20
 (Arquivo Hoje em Dia)

(Arquivo Hoje em Dia)

Morrer aos 31 anos de idade é, claro, uma tragédia. Juventude, criatividade e energia interrompidas em um corte abrupto irreparável. Sonny Clark morreu sem completar os 32, assim como muitos colegas contemporâneos, vitimados pelo consumo excessivo de drogas.

Mesmo assim, deixou um legado considerável, que nos faz imaginar o que mais teria produzido se tivesse tido mais tempo à frente de um piano. Um de seus melhores trabalhos, "Sonny’s Crib", acaba de completar 55 anos de sua gravação e é uma das grandes referências do jazz.

Com um andamento acelerado o álbum fascina pela técnica e refinamento da banda composta por Clark ao piano, Donald Byrd no trompete, Curis Fuller no trombone, Art Taylor na bateria e os medalhões Paul Chambers no contrabaixo e John Coltrane no sax tenor.

Virtudes

O que chama atenção nesse registro é que não se trata de um disco de um só artista com acompanhantes de luxo ao seu redor. Na verdade, Sonny é o mais comedido da trupe, numa produção em que todos têm espaço para mostrar suas virtudes. Aos amantes das quatro cordas, é recomendável iniciar a audição já em "News For Lulu", a quinta faixa, em que Chambers manda um belíssimo solo, com aquele "punch", que poucos contrabaixistas conseguem extrair de seu instrumento.

Claro que Coltrane domina o ambiente com suas dezenas de frases por minuto, que nos faz imaginar que logo o saxofonista irá desmaiar por falta de oxigênio. Quem conhece seu trabalho percebe na hora que o autor de "Giants Steps" se faz presente.

Mas não está sozinho. Não deixe de apreciar o solo de trombone, da segunda versão de "With a Song in My Heart", que faz parte das três faixas bônus incluídas na versão em CD. A bolachinha ainda oferece takes alternativos das deliciosas "Speak Low" e "Sonny’s Crib", que nos levam a uma inevitável comparação entre as músicas escolhidas na edição original e as que ficaram de fora, não porque eram piores, mas porque não caberiam nos 22 minutos de cada lado do vinil.

Atemporal

Aos apreciadores de um jazz mais cadenciado, a regravação de "Come Rain or Come Shine", de Harold Arlen, é uma daquelas músicas que pede uma taça de vinho e apenas os LEDs do aparelho de som como iluminação. E como não poderia deixar de ser mencionado, a faixa que intitula o álbum tem um ritmo tão gostoso e sofisticação tal, que temos a impressão de enxergar o sorriso de deboche dos músicos brincando com seus instrumentos. Nessa, o dono da banda arrebenta.

"Sonny’s Crib" é uma obra atemporal, criada em um dos períodos mais férteis do jazz, nos estúdios Blue Note. Para os neófitos no gênero, um disco recomendadíssimo, como "Kind of Blue" (Miles Davis), "Blue Train" (John Coltrane) ou "Time Out" (The Dave Brubeck Quartet). E não deixe de ouvir outros bons álbuns desse pianista, como "Dial ‘S’ For Sonny" e "Cool Struttin".

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