Tropicalistas são fonte de inspiração para Tom Zé

Cinthya Oliveira - Do Hoje em Dia
25/08/2012 às 10:08.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:44
 (Andre Conti/Divulgação)

(Andre Conti/Divulgação)

Entrevistas com artistas dificilmente saem do padrão. A não ser que o entrevistado seja Tom Zé. Em meia hora de bate-papo, ele falou sobre a história da miscigenação dos nordestinos, sobre filosofia, sobre a invasão moura em Portugal, sobre a palavra como maior riqueza do homem sertanejo.

Tudo isso para mostrar o raciocínio feito para construir as 16 faixas do recém-lançado disco “Tropicália Lixo Lógico”, em que busca teorizar musicalmente o movimento criado por Caetano Veloso e Gilberto Gil na década de 1960.

Antes de chegar à Tropicália, ele antecede uma explicação. “Até os 8 anos de idade, vivemos em um mundo não aristotélico, temos ali homens prontos com defeitos e qualidades de seus pais, de seus meios. Quando vamos à escola, reparamos no jeito do professor argumentar, raciocinar. Mas e se eu pensasse na minha educação até aqui sem passar por isso? Não tem jeito porque o cérebro humano não apaga nada. Tudo o que aprendemos na escola e universidade forma um lixo lógico no nosso cérebro”, afirma Tom Zé.

Aí, sim, a tese chega aos objetos de estudo. “Influenciados pela poesia de Oswald de Andrade, pela destreza da poesia concreta, vendo Zé Celso Martinez Corrêa montando ‘Rei da Vela’ e os ‘Parangolés’, de Hélio Oiticica, Caetano e Gil fizeram uma agitação cultural que foi o gatilho disparador para que o hipotálamo pudesse vazar o lixo lógico”, conclui.

Caboclo

Mas há muito mais aqui do que Caetano e Gil, fonte de inspiração para a faixa-título. No álbum, Tom Zé fala de Tom Zé, de um homem que nasceu no interior da Bahia (em Irará) e simboliza a miscigenação do país que tanto lhe inspira.

“Os brancos que chegaram ao Nordeste ficaram lá se misturando a índios e negros, e originaram essa figura que agora fala com você, um caboclo. Essa mistura está nos cantos, versos, danças, folclore, festas populares e na palavra. No sertão, a mais importante moeda que circula é a palavra. Ela é tratada como ouro em pó”, diz Tom Zé, emendando que cresceu ouvindo a mesma linguagem que Guimarães Rosa apresentou em “Grande Sertão: Veredas”.

Esse passado sertanejo Tom Zé carrega em cada centímetro de seu corpo. Até mesmo no trato com as pessoas que chegam perto. “Eu gosto de amizades. Trato com carinho todas as pessoas que vêm conversar comigo. Isso é coisa de gente da roça”.
 

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