Renault Duster chega para desbancar Tucson e EcoSport

Marcelo Ramos do Hoje em Dia
16/06/2012 às 18:41.
Atualizado em 21/11/2021 às 22:54
 (DIVULGAÇÃO)

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FOZ DO IGUAÇU - O segmento de utilitários-esportivos (SUVs) compactos abocanha uma fatia considerável do mercado brasileiro de automóveis. Apesar de seus 7% de participação parecerem modestos, o percentual equivale a mais de 220 mil unidades anuais. Não é pouco e a Renault pretende ampliar seus volumes, no país, com o lançamento de um novo jipinho, o Duster, que chega com preços a partir de R$ 50.900 para bater de frente com o EcoSport, da Ford. Ela estima que o modelo, que faz parte da família Logan, tenha um vendas iniciais na casa de 2.500 unidades mensais.

Para isso, o Duster chega com um amplo leque de versões. São seis, ao todo, com duas opções de motorização, ambas bicombustíveis: 1.6 litro 16V, de 115 cv, e 2.0 litros 16V, de 142 cv. O modelo de entrada combina o propulsor de 115 cv com o câmbio manual de cinco marchas. Já o topo de linha, que atinge o teto de R$ 64.600, combina a unidade de 142 cv ao câmbio manual de seis marchas ou à transmissão automática de quatro velocidades.

Tração integral? Claro que o Duster também pode vir com sistema 4x4. Aliás, é exatamente com essa diversificação de gama e preços, que a Renault espera brigar de igual para igual não só com o EcoSport (a partir de R$ 54.710), mas também com o Hyundai Tucson (a partir de R$ 64 mil). E em um nicho onde cada centavo conta, na hora de fechar o negócio, seu futuro parece promissor.

Para o presidente global da aliança Renault-Nissan, Carlos Ghosn, o Brasil é prioridade para a marca, já que é seu maior mercado, depois da França. “Vamos ultrapassar a marca de 200 mil unidades comercializadas, neste ano, apenas com a Renault. São números que atestam que o Brasil tem papel fundamental, em nossa estratégia de crescimento”, comentou o executivo, que veio ao Brasil exclusivamente para a acompanhar a apresentação do novo utilitário-esportivo.

Pouco fotogênico, jipinho é mais simpático ao vivo

Apesar de ser pouco fotogênico o Duster é muito simpático, ao vivo. Claro que ele está longe de ter um design premiado, mas não é tão insosso como nas fotos. E mesmo sendo parente próximo do Logan e do Sandero, só se percebe a familiaridade no seu interior, que é praticamente o mesmo dos irmãos citadinos. Eles se parecem, inclusive, na qualidade do acabamento, em que predomina plástico duro – ou seja, igual a EcoSport e Tucson.

Alguns itens deixam a desejar, como a moldura emborrachada do painel que tem encaixe mal resolvido – basta um puxão mais forte para a peça sair nas mãos. Outro ponto negativo é o posicionamento dos comandos elétricos dos retrovisores externos, que ficam abaixo da alavanca do freio de estacionamento.

Esses deslizes tem uma justificativa: por derivar da versão romena, fabricada pela Dacia, da Romênia, o modelo brasileiro recebeu diversas modificações para ganhar valor agregado. Lá fora, o jipinho segue o mesmo conceito do Logan, que é ser um carro de baixíssimo custo e acabamento espartano, apenas com o indispensável.

A Renault garante que foram feitas 774 alterações, em relação ao original europeu, para adequar o modelo às exigências e condições do mercado brasileiro. A começar pela suspensão, que recebeu novas molas e amortecedores. O resultado agrada, mostrando que o jipinho absorve bem as imperfeições de pisos de calçamento e terra, sem compromisso do controle direcional, na estrada.

Marca se antecipa aos adversários

O lançamento da Renault deve agitar o mercado de utilitários-esportivos (SUVs) e tirar o EcoSport de uma posição bastante confortável. De qualquer forma, a Ford lança, no ano que vem, a segunda geração de seu jipinho e há rumores de que a Hyundai vem desenvolvendo um SUV com apelo mais urbano, para o mercado brasileiro. E para por mais lenha na fogueira, ainda há o esperado “mini” Captiva, que marca a entrada da Chevrolet neste nicho. Mas tudo isso é futuro e os franceses foram espertos, já que deixaram de viver de promessas.

A linha Duster tem o seguinte escalonamento: a versão básica abre a gama com motor 1.6 16V Hi-Flex, por R$ 50.900; seguida da Expression 1.6 16V Hi-Flex (R$ 53.200) e da Dynamique 1.6 16V Hi-Flex (R$ 56.900); depois vêm as versões Dynamique 2.0 16V Hi-Flex (R$ 60.600, com câmbio manual de seis marchas, e R$ 64.600, com transmissão automática de quatro velocidades) e Dynamique 4WD 2.0 16V Hi-Flex (R$ 64.600) fechando o catálogo. Se o novo jipinho terá sucesso no Brasil, só o tempo dirá, mas ele tem valores muito competitivos e vale lembrar que, na Europa, ele vendeu mais de 76 mil unidades, só no primeiro semestre.

Apesar de os rumores de desaceleração do mercado automotivo, ao redor do mundo, a Renault quer atingir um patamar de 3 milhões de unidades, em 2013. “Se o mercado global não se deteriorar, este é o volume que projetamos para os próximos dois anos. Isso significa que temos que elevar nossa produção em 400 mil unidades. E, para atingirmos essa meta, precisamos elevar nossa participação no mercado brasileiro para 8%”, disse o presidente mundial da Aliança Renault-Nissan, Carlos Ghosn.

Ele anunciou que a Renault irá lançar 13 novos modelos, até 2016. “Só assim conseguiremos atingir essa participação”, conclui. O executivo aproveitou para comentar a elevação da alíquota do IPI para modelos importados, que ele não a enxerga como protecionista. “Essa medida só irá acelerar o plano de instalação de novas marcas no Brasil. Não dá para ser competitivo aqui, apenas com importações. A marca que quiser crescer no mercado precisa ter uma unidade fabril local, para equacionar os custos e a receita em real. É muito arriscado ficar a mercê da oscilação cambial. Além do mais, não dá para opinar com o Governo. Temos é que nos adaptar as regras”, explica Ghosn.

Ele prevê que o Brasil ruma para a terceira posição no ranking da indústria automotiva. “Hoje, o Brasil é o quarto mercado mundial, mas acredito que, em breve, chegaremos à terceira posição, pois a produção japonesa está em queda e o Brasil irá ocupar um posto ainda de maior relevância. E não dá para uma marca abastecer o mercado, apenas com importados”, conclui.

No entanto, o presidente criticou alguns entraves da indústria nacional e culpou a carga tributária, como vilã dos preços astronômicos dos carros brasileiros – uma vez que o Duster, na Argentina, custará pouco mais de R$ 40 mil. “Todo mundo me pergunta porque o carro brasileiro é tão caro. Geralmente alegam que temos uma margem de lucro altíssima. Seria ótimo se fosse assim, mas o problema é que se paga 48% de impostos. Em nenhum mercado do mundo o consumidor paga tanto imposto. Nossa rentabilidade no Brasil é equivalente ao restante da América Latina, assim como China e Rússia”, argumenta.

Ghosn ainda enfatizou que o país precisa criar mecanismos para ampliar a rede de fornecedores locais. “Um índice de nacionalização de 65% é pequeno se comprado a países como China e Índia, que operam com 90% de itens de fornecedores locais. Uma incoerência é o preço do aço. Como um dos maiores exportadores de minério do mundo pode vender o aço mais caro do planeta? Também há muito fornecedor local que cobra os mesmos preços de autopeças importadas. E todos esses entraves elevam o custo de produção”, explicou o executivo.

* O repórter viajou a convite da Renault

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