Em 24 cidades, disputa eleitoral será apenas para "cumprir tabela"

Ezequiel Fagundes - Do Hoje em Dia
15/07/2012 às 12:45.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:34
 (Arquivo da candidata)

(Arquivo da candidata)

Candidatos a prefeito do interior de Minas entraram na eleição deste ano no melhor dos mundos para qualquer político: sem oposição e com a eleição praticamente garantida. É esse o cenário em pelo menos 24 cidades do Estado, segundo levantamento feito pelo Hoje em Dia no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em 2008, o número foi de 16 candidatos.

Nesses locais foram registradas candidaturas únicas. Pela legislação, os votos brancos e nulos não são considerados válidos. Por outro lado, a lei não faz referência às abstenções. Assim, segundo a Justiça Eleitoral, não há possibilidade de a eleição ser anulada, a menos que o candidato seja impugnado por qualquer irregularidade.

Portanto, o eleitor não tem alternativa. Como os registros das candidaturas estão sendo lançados no sistema do tribunal, a relação pode aumentar.

Mesmo com a ausência de adversários, curiosamente, eles vão fazer campanha. Tanto que estimaram limite de gastos para comprar santinhos, produzir jingles e gastar com combustível.

No Centro-Oeste, em Serra da Saudade, menor município mineiro, com 811 eleitores, a urna eletrônica vai ter apenas a imagem da atual prefeita, Neusa Maria Ribeiro (PDT). Candidata ao segundo mandato, ela conquistou o apoio de todas as forças políticas da cidade, incluindo até seu ex-marido Alaor José Machado (PP).

Ex-prefeito por três mandatos, ele desistiu em favor da ex-mulher. “Aqui está muito chique. Todos os meus projetos foram aprovados por unanimidade pelos vereadores. Não é falta de oposição. É a nossa administração que é muito boa mesmo”, gaba-se Neusa.

Em Perdizes, no Alto Paranaíba, o candidato Fernando Marangoni, o Fernandinho (PSDB), conta com o apoio até de petistas. Concunhado do prefeito Edno José de Oliveira, o Peçonha (PSDB), de quem foi secretário de Obras, ele diz que foi sua candidata a vice, a vereadora Lucimar Fátima (PMDB) quem costurou a aliança.

Em reunião com o juiz eleitoral da comarca, o tucano diz que ficou acertado que a campanha não vai contar com grande estrutura. No entanto, ele não vai dispensar santinhos, adesivos e carros de som. Questionado sobre quais são suas prioridades, Fernandinho apresenta um discurso pré-fabricado. “Educação, saúde e segurança”.

Em Quartel Geral, no Centro-Oeste, Gaspar Carlos, o Badaró (PDT), já faz planos para o próximo mandato. Seu objetivo é recapear o asfalto do centro da cidade. “Fico até meio sem graça de dizer, mas nós inibimos a oposição”, conta o prefeito.

Em Jesuânia, no Sul de Minas, o presidente da Câmara, Paulo Neco (PSDB), quer ganhar 100% dos votos. “Quanto mais melhor”, resume.

Em Comercinho, no Jequitinhonha e Mucuri, Célio Costa (PSB) diz que a oposição ‘desanimou’ após a divulgação das primeiras pesquisas. “Acho que o outro lado não quis arriscar”.

Para o sociólogo Rudá Ricci, essa situação é maléfica para a democracia. “A política brasileira reinventou o coronelismo. Sem debate, não há crítica”, lamenta.

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