Do sonho do hexa do Brasil ao medo de ser o 12º vilão

Felipe Torres - Enviado Especial
02/07/2014 às 07:48.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:13
 (Vanderlei Almeida)

(Vanderlei Almeida)

TERESÓPOLIS – O fracasso marca muito, algumas vezes até mais do que a vitória. E o astro Neymar sabia, quando pegou a bola e seguiu rezando em direção ao gol defendido por Bravo para fechar a série de penalidades de Brasil x Chile, no Mineirão, que se perdesse a cobrança, as chances de a Seleção se despedir nas oitavas de final da Copa, em casa, seriam enormes. Mas o camisa 10 balançou as redes, e chorou.

A verdade é que o medo de se tornar o vilão do Mundial brasileiro aterroriza o técnico Luiz Felipe Scolari e os atletas. Portanto, Felipão decidiu agir. O gaúcho se reuniu com seis jornalistas “amigos”, da imprensa paulista, na segunda-feira, e confirmou que o emocional do elenco não está bem.

A atitude de Scolari foi muito criticada na Granja Comary, em Teresópolis. Ele expôs o desequilíbrio psicológico de Neymar e do capitão Thiago Silva, que não quis participar das penalidades em BH. Colocou mais pressão no grupo, ao garantir que se arrependeu da convocação de um nome na lista dos 23 – o qual não revelou.

Por fim, ordenou a volta da psicóloga, contratada pela CBF, Regina Brandão, antes do duelo das quartas, contra a Colômbia, na sexta-feira.

Morreu triste

Não faltam exemplos de vilões na Seleção. A história de Barbosa é a mais comovente. O goleiro morreu em 2000 ainda com o peso da falha no gol de Ghiggia, que decretou os 2 a 1 do Uruguai, na decisão da Copa de 1950. O Maracanazo nuca foi esquecido. “Ele dizia que a pena máxima no Brasil era de 30 anos e ele já estava pagando 50”, revelou Tereza Borba, filha de consideração do ex-jogador.

A partir daí, em cada torneio da Fifa caiu sob os ombros de um personagem o fracasso brasileiro. Só para lembrar os mais recentes, na Alemanha (2006), por exemplo, o lateral-esquerdo Roberto Carlos ajeitava os meiões no momento que o francês Thierry Henry estufava as redes de Dida. Já na África do Sul (2010), o volante Felipe Melo recebeu cartão vermelho contra a Holanda. Antes, havia se embolado com o goleiro Julio Cesar no gol de Sneijder.

Uma das vilanias mais marcantes é a da Copa de 1990, na Itália. O fracasso ficou conhecido como “Era Dunga”, em alusão ao volante de futebol duro e pragmático. Naquela ocasião, o Brasil foi eliminado logo nas oitavas de final, para a rival Argentina.

Fracassos rendem boas histórias ao longo das Copas

Episódios envolvendo os vilões da Seleção renderam boas histórias ao longo das Copas. “Todos juntos de espingarda na mão, esperando o Zagallo descer do avião”. A letra da música “Pra frente Brasil” foi alterada para mostrar a insatisfação com o treinador da Seleção na Copa de 1974, na Alemanha. Ele acabou considerado o grande responsável pela eliminação naquele torneio, após a derrota (2 a 0) para a Laranja Mecânica, na semifinal.

A prepotência de Zagallo chamou a atenção dos torcedores na época. Antes do confronto, o comandante chegou a afirmar: “A Holanda é muito tico-tico-no-fubá, que nem o América dos anos 50”. Em seguida, declarou que o rival não lhe preocupava. “Estou pensando na final com a Alemanha”, disse.

Quatro anos depois, os brasileiros não perdoaram o combinado peruano, que teria entregado o jogo para a anfitriã Argentina, na goleada de 6 a 0 que sofreram, eliminando o Brasil no saldo de gols.

Toninho Cerezo e Zico também carregaram o fardo do “adeus” nas Copas de 1982 e 1986, respectivamente. O volante do Atlético por errar o passe que deu origem a um dos três gols de Paolo Rossi na vitória da Itália, na Espanha. E o maior ídolo do Flamengo desperdiçou a penalidade quando o duelo contra a França estava em 1 a 1, no México. Na decisão por pênaltis, o Brasil foi eliminado.

Culpado?

O atacante Ronaldo talvez não possa ser chamado de vilão. Pisou o gramado do Stade de France, em 1998, abalado após se sentir mal e sofrer convulsão na concentração.

O time não absorveu bem o baque do Fenômeno e não esboçou qualquer reação nos 3 a 0 do título dos franceses.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por