Em manifesto, Tabárez afirma que Suárez foi “bode expiatório” e renuncia a cargo na Fifa

Wallace Graciano - Enviado Especial
27/06/2014 às 19:00.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:10
 (EFE)

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RIO DE JANEIRO – O técnico da seleção uruguaia, Óscar Tabárez, fugiu ao protocolo da Fifa e não deu entrevista coletiva nesta sexta-feira (28), no Maracanã. Ao invés das tradicionais perguntas e respostas, o comandante platino optou por ler à imprensa, por cerca de 15 minutos, um manifesto no qual mostrou repúdio à punição aplicada pelo comitê disciplinar da entidade a Luis Suárez, afirmando que o atacante foi tratado como “bode expiatório”.    Durante o comunicado, o comandante platino afirmou que o comitê disciplinar da entidade agiu sob pressão midiática e que usou o passivo de Suárez para puni-lo de forma excessivamente rigorosa. Contrário às opiniões do órgão, Tabárez afirmou, ainda, que apresentará renúncia ao cargo que possui no comitê executivo da entidade.    Confira, na íntegra, o manifesto do comandante uruguaio.    “Primeiramente, vou usar o direito de expressar a minha opinião como técnico da seleção uruguaia, como um técnico que se considera fruto do futebol uruguaio. Treinei, cresci e represento meu país, desde que me tornei parte desta delegação. Mas quero apresentar também meus antecedentes como técnico. Desde que comecei minha caminhada, sou defensor do Fair Play, do futebol como formação de jovens.  E isso me trouxe prêmios e reconhecimentos, um dos quais a Ordem ao Mérito da FIFA e outro da Unesco, que me declarou defensor do Fair Flay, entre outros prêmios que irei para sempre prezar e serei eternamente grato.   Mas há uma consulta por um processo de falhas,  coisas que não foram vistas por um árbitro e não foram sancionadas. E, para isso, se usam os registros de imagem para se tirar uma conclusão. E nelas vimos uma severidade excessiva. Imediatamente após o jogo, vimos que havia uma possibilidade de punição ao Suárez e ao Chiellini. Esperávamos a sanção, é claro.    Mas nunca imaginávamos o resultado da decisão, que achamos muito, muito severa. Uma decisão que, evidentemente, está muito mais voltada para as opiniões expressas na mídia logo após o jogo, através de jornalistas que só falaram desse assunto. Não sei quais eram suas nacionalidades, mas todos falavam inglês. Essa pressão midiática fez com que estivéssemos longe dos dados expressos na ação. Quando me refiro aos ataques da mídia, refiro ao passivo do Luis.  Coisas que aconteceram no passado, que ele sofreu sanções.   Apesar desses ataques e dessas pressões, sabemos onde a nossa força se encontra. O poder está nas mãos do organizador. Sabemos onde se encontra o poder nessa história, mas isso não significa que vamos aceitar esse poder indiscriminado de um órgão. Quando digo um órgão, me refiro ao comitê disciplinar.    Como técnico, já lecionei e lhes apresento a teoria do ‘bode expiatório’, que é quando se dá uma punição e a usa como exemplo, não importando se é excessiva, para as pessoas entenderem que não se deve fazê-la.    Independentemente se a pessoa comete uma transgressão, uma falta, isso não é um crime. Há um perigo nessa forma de proceder. Se esquecem de que o bode expiatório é uma pessoa. Que tem direitos. E, nesse caso, o Luís, apesar de seus erros, deu muitas contribuições ao futebol dentro de campo. Ao passo de que essa é a essência que esses mundiais têm. Isso, sim, é importante: a contribuição dos jogadores.   Precisamos fazer muitas perguntas sobre esses problemas: com essa decisão, quem é que ganhou? Quem é que perde? Quem se beneficiou? Quem se prejudicou? Evitarão todos os excessos e agressões? Duvido muito. Antes e depois desse ocorrido, houveram medidas totalmente diferentes.    Quando isso acontece, vimos a omissão. Nesse caso, vimos que a transgressão foi medida com uma métrica diferente. E isso leva a exageros na pena. Não estou justificando nada, nem acredito que não deveria haver uma punição, mas sempre devemos dar uma oportunidade a quem comete o erro ou uma falta. Por isso, não concordo com essa teoria de ‘bode expiatório’.    A ideia que queremos deixar com a nossa visão é que conhecemos muito bem o protagonista dessa história. Todos sabemos onde está o poder. Isso não se discute. Não pode ser de outra maneira. Não quero discutir isso. Mas podemos enfrentar esse uso indiscriminado do poder.   Há muitos anos, iniciei meu trabalho com a Fifa como professor em cursos. Ocupo, agora, um cargo de membro do grupo técnico de estudos em Mundiais. Sinto que devo abandoná-lo. Sinto que não é prudente estar em uma organização que exerça pressão para tomar uma decisão. Que mediram valores diferentes dos meus. Portanto, nos próximos dias, apresentarei a renúncia a esse cargo, pelos motivos que apresentei aqui, cumprindo os procedimentos formais da entidade.    Ao Suárez, digo que ele jamais estará só.    Aos fãs uruguaios, que estão comovidos, quero dizer que estamos feridos, mas com uma força incrível para reagir.  Estamos mais fortes do que nunca”. 

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