Privacidade pedida por Felipão fica longe da Granja Comary

Felipe Torres - Enviado Especial
02/06/2014 às 07:58.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:50
 (Gaspar Nóbrega)

(Gaspar Nóbrega)

TERESÓPOLIS – A escolha da Granja Comary, em Teresópolis, como base da Seleção Brasileira na Copa do Mundo tinha um propósito claro. O comandante Luiz Felipe Scolari e o coordenador técnico Carlos Alberto Parreira exigiam tranquilidade, principalmente no período de preparação. O “fantasma” da badalação de Weggis, na Suíça, antes do Mundial de 2006 (Alemanha) ainda parecia assustar os calejados “professores”.

No dia da convocação, o treinador mandou um recado claro. “Espero que eles (políticos, patrocinadores) tenham bom senso de saber que não é o momento de recebermos A, B ou C. É o momento de focarmos no trabalho da Seleção Brasileira. Vamos recebê-los, mas vamos convidar”, garantiu Felipão.

Passada uma semana da presença dos jogadores canarinhos na região Serrana do Rio de Janeiro, os políticos não apareceram, mas os patrocinadores têm até uma arquibancada para que seus convidados assistam aos treinos. E as “visitas” de astros da Rede Globo, emissora dona dos direitos de transmissão do Mundial e parceira da CBF, são quase que diárias.

Logo no dia da apresentação do elenco, na segunda-feira da semana passada, a apresentadora Fátima Bernardes acompanhou o treino e conseguiu depoimentos exclusivos, inclusive de Scolari. Porém, o pior ainda estava por vir.

Na quinta-feira, o colega Luciano Huck deu as caras e invadiu a atividade da Seleção, gravando um quadro para o seu “Caldeirão do Huck”. Com total liberdade, e junto dos filhos Joaquim e Benício, Huck levou Leonardo Tomé, de 17 anos, portador de doença congênita, até os ídolos do Brasil.

Neymar chorou ao conhecer a história do fã, que desceu da cadeira de rodas e realizou embaixadinhas. Pegou muito mal o momento escolhido para tal encontro. Scolari esperou o fim das gravações e, só então, seguiu com o treinamento.

“A Globo exerce de maneira evidente o monopólio que mantém sobre a Seleção. O pior é que tudo acontece com a liberação do presidente José Maria Marin. Felipão apenas aceita a determinação do presidente da CBF. Não pensei que a preparação para a Copa seria dessa maneira, amadora”, critica o jornalista Cosme Rímoli, do portal R7, que cobriu em 2006 todo o período do Brasil em Weggis.

Almoço com Mumuzinho

O “circo” ainda teria um novo capítulo. Durante o coletivo de sábado, o sambista e humorista Mumuzinho, do programa global “Esquenta”, de Regina Casé, ficou à beira do gramado do campo. Ele gritava o nome dos jogadores, parecia estar numa festa. Encerrado o treino, foi à concentração e almoçou com os jogadores. O zagueiro Dante publicou uma foto em que Mumuzinho posava com a turma toda, exibindo brindes do “Esquenta”.

Comodismo e erros incomodam Felipão

A confiança dos jogadores da Seleção, a dez dias da estreia na Copa do Mundo, frente a Croácia, em São Paulo, chega a causar certo calafrio nos mais de 1,6 mil profissionais de mídia presentes na Granja Comary, em Teresópolis. Desde que o coordenador técnico Carlos Alberto Parreira declarou que o “hexacampeão havia chegado”, as coletivas são sempre em tom sereno, sem muitas “rugas de preocupação”.

Durante os treinamentos, Felipão acompanha o rendimento dos atletas, na maioria das vezes, calado, com os braços para trás. Ao lado seu lado, Parreira e o auxiliar Murtosa repetem a pose. Raras são as intervenções ríspidas do comandante, como as que aconteceram ontem, no último coletivo antes do amistoso de amanhã, diante do Panamá, às 16h, em Goiânia. Os titulares venceram a atividade, por 3 a 2, gols de Neymar e Marcelo (2). Hulk, deslocado à equipe reserva no segundo tempo, e Willian descontaram. Porém, Scolari não poupou críticas aos 11 do time principal.

“Não gostei do treino, não gostei nada. Tudo errado. Muita coisa errada. Muita liberdade, muito contra-ataque, uma série de detalhes que não é o normal da Seleção”, declarou.

Uma das explicações para esse “comodismo” seria a manutenção da formação campeã da Copa das Confederações de 2013. Por enquanto, não há uma mudança sequer em relação à equipe que bateu a Espanha (3 a 0), na decisão, no Maracanã.

Saco de pancadas

Na primeira semana de preparação da Seleção na Granja, o ex-atleticano Bernard se tornou o “saco de pancadas” da turma. O atacante, agora no Shakhtar Donetsk (da Ucrânia), sofreu com as entradas fortes dos companheiros. Sábado, o mineiro teve de abandonar o coletivo, após dividida com Paulinho, reclamando de dores no tornozelo direito.

O próprio Bernard divulgou um vídeo depois, em que tranquilizava os torcedores, reforçando estar bem. Quem se deu mal na história foi Paulinho, que com dores musculares, não participou do treinamento de ontem e sequer viajou com os companheiros a Goiás. O capitão Thiago Silva e o meia Fernandinho também serão poupados. Eles permanecem em Teresópolis.

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