América: um time para poucos torcedores e muita paixão

Álvaro Castro – Hoje em Dia
29/04/2013 às 22:30.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:16

30 de abril de 1912. É nesta data que começa uma das mais antigas e belas histórias de amor ao futebol em Minas Gerais. Essa é a data de fundação do América Futebol Clube, um dos três times centenários do Estado (juntamente com Atlético e Villa Nova). A partir desse dia começa o caso de amor que hoje reúne cerca de 200 mil aficionados pelo carinhosamente chamado de Coelho. 

Se não é a maior torcida de Minas (atualmente é a terceira entre os times regionais), certamente é uma das mais apaixonadas e interessantes. Não somente pela paz e tranquilidade de seus jogos e cânticos, mas também por se tratar de uma torcida essencialmente familiar. Torcer para o América não é um sentimento que vem regado a títulos e investimentos milionários. É algo que brota, que vem de dentro, cultivado com muito carinho por pais e avós saudosistas e defensores da paixão pela paixão.

 É sobre este mote que o clube lançou no ano passado, época de seu centenário, o curta intitulado “América: um time para poucos”. Nas histórias que o Portal Hoje em Dia buscou para tentar contar um pouco mais dos gloriosos 101 anos de amor incondicional entre a torcida e o clube, uma unanimidade: a origem da paixão pelo Coelho no berço, dentro de casa, nascendo em família.

“Minha influência para ser torcedor do América veio do meu irmão”, conta o publicitário Luiz Carlos Lobo Artiaga, 52 anos, proprietário de uma produtora de vídeos. “Apesar de meu pai ser atleticano, ele me levava aos jogos do América. Por volta de 1970 passei a fazer parte de um seleto grupo de torcedores que torcem com o coração, que nunca choram ao perder um jogo ou campeonato. O América é sim um time para poucos e fiéis torcedores”, conta.

É este tipo de sentimento que move os corações apaixonados de um time que há muito não vive seus tempos de grandes glórias, quando era a primeira força do futebol em Minas Gerais, como nos anos 20. O Coelho já não rivaliza de igual para igual com Cruzeiro e Atlético há alguns anos mas, na última década, o abismo financeiro entre os clubes ficou mais evidente e a torcida foi envelhecendo. “Os torcedores do América têm, em sua grande maioria mais de 50 anos”, conta Amarelinho, jogador do clube nas décadas de 50 e 60 e fiel bastião do orgulho alviverde.
 
Fabiano Chamone curte um jogo do Coelhão no Independência ao lado de sua esposa Sônia e a amiga Mariana (Foto: Arquivo Pessoal)

Contudo, é possível encontrar dentre o mar de cruzeirenses e atleticanos que têm seus números contados aos milhões, jovens americanos que não deixam o espírito guerreiro morrer. Um desses casos é o empresário Fabiano Chamone, 33 anos. “Os irmãos do meu pai são quase todos americanos, excetuando um. Quando mais novo íamos mais ao estádio, mas o jejum de vitórias vai minando isso. Contudo, nos últimos anos, voltei a acompanhar os jogos das séries C e B”, contou.

Para Chamone o momento de hiato de títulos é uma das razões para a pequena renovação de torcedores. “As crianças escolhem torcer para times que estão ganhando. Com poucos títulos, a torcida cresce apenas através da influência dos pais”, diz. O último título do América foi o de campeão Brasileiro da Série C (3ª divisão), conquistado em 2009.

Contudo, o universo americano não é feito apenas de apaixonados “anônimos”. Durante muitos anos, foi do América o status de “time do poder”, dada ao grande número de políticos e empresários tradicionais que envergavam as cores alviverdes. Newton Cardoso e Eduardo Azeredo, dois ex-governadores, são exemplos. Músicos, artistas, escritores também compõem a miscelânia de americanos ilustres, dentre eles Tavinho Moura e Toninho Horta.

Atualmente exercendo mandado de deputado federal, Eduardo Azeredo é mais um caso desses “americanos de berço”. “Sou americano de família. Meu pai era torcedor e segui seus passos. E sou torcedor frequentador. Estive no Alçapão do Bonfim recentemente para acompanhar o embate entre América e Villa Nova, pelo Campeonato Mineiro”, disse. Sem meias palavras, Azeredo faz um retrato do time, que condiz com a opinião dos demais entrevistados. “Este ano, o time começou mal, mas no ano passado fomos vice-campeões mineiros e fizemos uma campanha razoável no Brasileiro. Precisamos dar uma sacudida para enfrentar a Série B deste ano”, analisou.

Tanto para Azeredo quanto para Fabiano, o time tem boas perspectivas de futuro. Com um bom patrimônio acumulado ao longo dos últimos anos, contando com estádio, centros de treinamento e participação em um grande shopping da região Leste da cidade, ambos veem o América com bons olhos. “O América é um time de arrecadação menor, mas é um dos poucos com a situação financeira estruturada. Precisamos ganhar títulos para que nossa torcida possa crescer. E para isso precisamos voltar a investir nas categorias de base”, disse o político. “O América é sempre um time muito forte nas categorias de base, como o Sub-20, mas não consegue reter suas maiores estrelas. Veja os exemplos de Palhinha, Fred, Gilberto Silva. O clube precisa pegar sua arrecadação e investir verdadeiramente no futebol”, completa Fabiano Chamone.

Mesmo com todos os percalços, o time segue se orgulhando de sua apaixonada torcida e tendo seu respeito retribuído com amor à flor da pele. “O América é o melhor time do mundo!”, encerra Luiz Carlos Artiaga.

Veja aqui o vídeo “América, um time para poucos”:
 

 

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