Mercedes 600 Pullman: "O Carro do Papa"

Boris Feldman - Hoje em Dia
21/02/2015 às 09:02.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:05

Suprassumo da sofisticação para carregar até o Sumo Pontífice. E todas as operações sob um simples toque: nenhuma interferência divina, apenas uma inédita (e complicada) central hidráulica que acionava todo o automóvel sem as infinitas possibilidades atuais da eletrônica, como responder – nas décadas de 60 e 70 – às exigências de conforto e segurança para carregar presidentes de poderosas empresas? E até de convencer o Vaticano a transportar o Sumo Pontífice?   A melhor resposta a estas questões veio em 1963, com o lançamento do Mercedes-Benz 600, fabricado até 1981. Foram 2.677 unidades em três versões: “normal” com 5,45 metros, “Pullman” (428 unidades) com 6,24 metros e 59 unidades do “Landaulet” (conversível na traseira, como o “Carro do Papa”).   O motor era o maior da linha Mercedes: V-8 com 6,3 litros, 250 cv e torque “de caminhão”: 51 mkgf a 2.800 rpm. Apesar de seus 2.770 kg (Pullman), acelerava de zero a 100 km/h em apenas 12 segundos.   Tudo no carro era hidráulico: fechamento automático e trava das portas, porta-malas e tampa do tanque, ajuste dos bancos, abertura do teto solar e os vidros das portas. Até o aquecimento e ar-condicionado eram comandados hidraulicamente. E equipado com um dispositivo inédito na época: freio de estacionamento que se desligava automaticamente ao ligar o motor.   O “melhor automóvel do mundo” tinha suspensão independente nas quatro rodas, um sistema pneumático no lugar de molas e amortecedores hidráulicos que controlavam a altura do automóvel com comando no painel.     Tinha várias combinações de cores e revestimentos internos, geladeira, TV, toca-fitas, mesinhas na traseira dos bancos dianteiros, vidro para isolar o motorista, intercomunicador, barbeador elétrico e até ar-condicionado duplo. Eram seis portas no 600 Pullman, com acesso a três filas de bancos ou quatro com os dois centrais virados para trás. Ou duas camas. Os “landaulets” eram os preferidos dos governantes pois desfilavam com a capota abaixada e podiam ser vistos e aplaudidos pelo povo. A fábrica forneceu dezenas de versões blindadas para altos executivos e presidentes de vários países. Mao Tsé Tung entre eles...   Se o ilustre passageiro tinha toda mordomia do mundo, atrás do volante a vida era difícil   Coitado do motorista com mais de 1,70m: eu dirigi um “600” e sofri atrás do volante: o curso do banco é limitado (para privilegiar espaço atrás) e desconfortável. Único mimo para o baixinho era a regulagem de altura do volante. Mas requinte era marca registrada em seu interior, todo revestido em couro, veludo e madeira legítima. Nos acabamentos, cromados em profusão.   O espaço para quem ia atrás era descomunal e, apesar do teto baixo, ninguém esbarrava a cabeça, mesmo os mais altos.   Transmissão automática de quatro marchas com – é claro – a nostálgica alavanca na coluna. E que cambiava na maciota. O motorzão empurrava bem o carro e a suspensão pneumática garantia estabilidade mesmo em estradinhas sinuosas fora das “autobahnen”.   Mas nada de acelerar fundo, pois o carro, apesar de pesar quase três toneladas, chegava fácil aos 200 por hora e a mecânica, desprovida dos recursos atuais, costumava assustar o motorista. Que, ou demonstrava habilidade ao volante, ou corria risco de ser excomungado...

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