Arnaldo de Souza: Agropecuarista ao pé da letra

Arnaldo de Souza*
16/09/2015 às 08:41.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:46
 (Divulgação)

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Há mais de 10 anos tenho participado de reuniões, debates e apresentações de sistemas de produção integrados. Tais sistemas geram renda em diferentes fases para o produtor rural e, de quebra, ajudam a preservar o meio ambiente, além de melhorar as condições do solo.

Atualmente, o Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) vem sendo apresentado como a grande novidade do mercado no agronegócio brasileiro.

O Brasil possui cerca de 2,5 milhões de hectares com ILPF e espera-se que, em cinco anos, tenhamos o equivalente a 10 milhões de hectares.

Essa corrida se deve ao financiamento aberto pelo governo através do Plano ABC - Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura.

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Plano ABC realizou, entre julho de 2014 e fevereiro deste ano, 5,3 mil contratos com a liberação de R$ 2,5 bilhões em crédito. De julho de 2010 até junho do ano passado, o programa financiou 27 mil contratos no valor de R$ 7,5 bilhões.

Somando esses dados, o total financiado pelo Plano ABC foi de aproximadamente 32 mil contratos no valor de R$ 10 bilhões.

O ILPF está tão importante que foi o tema principal, e posto em debate, no XIV Congresso Brasileiro de Agronegócios, realizado em São Paulo: “Sustentar é Integrar”.

O sistema de produção integrada promove a recuperação de áreas de pastagens degradadas agregando, na mesma propriedade, diferentes sistemas produtivos, como os de grãos, fibras, carne, leite e agroenergia. Busca melhorar a fertilidade do solo com a aplicação de técnicas e sistemas de plantio adequados para a otimização e a intensificação de seu uso. Toda essa produção acaba levando o produtor a ser agropecuarista ao pé da letra.

Essa integração possui a capacidade de mitigar até 1,5 toneladas de CO2 por hectare/ano. Hoje, o Brasil possui 151,2 milhões de hectares de pastagens, 83,8 milhões de hectares de agricultura, sendo que, desse total, 58,5 milhões de hectares são grãos e 7,7 milhões de hectares plantados com floresta.

Segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), o Paraná possui em torno de 1,5 milhão de hectares plantados com floresta, 3,2 milhões de hectares de pastagem na região Noroeste, maior polo de produção de gado de corte, e 5,84 milhões de hectares com grãos contabilizados na safra verão 2014/15. Se tudo isso fosse integrado, seria fantástico.

A integração visa unir a produção com produtividade potencializada. Nas bordas da área plantada com soja, colocam-se árvores, depois o gado come a palhada ou é criado próximo da produção. A ideia é que a produção integrada se sustente por 10 anos.

A questão que fica é a seguinte: se o governo cortar o financiamento para o ILPF, o que ocorrerá com esse modo integrado de culturas? Manter-se-á da renda advinda dele? Pelo menos a tendência é de que agricultores se tornem silvicultores e pecuaristas e vice-versa.

*Analista dos mercados de bolsas agrícolas
 

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