Boa alternativa, mercado promissor para a atemoia

Lídia Salazar - Especial para Força do Campo
02/09/2015 às 08:22.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:36
 (Divulgação)

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Uma fruta exótica que vem ampliando mercado graças a boa liquidez para o produtor. A safra de atemoia, que está nas últimas semanas, registrou bons resultados no primeiro semestre. Considerada uma das frutas mais saborosas do mundo, mais da metade da produção nacional está concentrada na região Sudeste. Minas Gerais, Paraná e Bahia respondem, cada estado, por aproximadamente 18% da produção brasileira. Em primeiro lugar está São Paulo, com 43,8% do volume de mercado.   Em Minas Gerais, Alfenas é responsável por 49% da produção do estado. Até julho deste ano, a safra de atemoia em Minas foi de cerca de 7 mil toneladas, colhidas em 184 hectares, de acordo com o coordenador técnico de Fruticultura da Emater-MG, Deny Sanábio. Segundo ele, em 2014, foram contabilizadas 4,2 mil toneladas. No entanto, apesar de reconhecer o crescimento e ampliação da safra, ele explica que houve mudanças no sistema de informação, que por ser antes deficitário não permitiu que no ano passado a coleta de dados fosse tão apurada como agora, motivo da grande diferença de números de um ano para o outro.   Com o fim da safra, começa a faltar produto no mercado. “A procura pela fruta vem aumentando, mas ainda temos 29 hectares em formação, sendo preparados para o início da colheita”, revelou. As baixas temperaturas propiciam o município de Alfenas a ter a maior área plantada de atemoia em Minas Gerais. “É uma cultura que se desenvolve bem no clima frio. Além disso, o município fica mais próximo de São Paulo que Belo Horizonte, e os paulistas consomem mais a fruta do que os mineiros, o que incentiva a cultura da atemoia na região”. Os produtores de Alfenas comercializam tanto na CeasaMinas como na Companhia de Entreposto e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).   Turvolândia, também no sul de Minas, é outro município que vem se destacando pela produção de atemoia. Na região, 12 produtores cuidam de 100 hectares plantados, que correspondem a uma safra de cerca de 400 toneladas. Toda a produção é destinada ao mercado paulista.   Diversificação   Em tempos difíceis, a atemoia passou a ser uma boa alternativa para quem busca diversificar a produção em pequenas propriedades. A fruta pode até mesmo ser consorciada com outras culturas, como a do pêssego, por exemplo.   Hoje, se alguém quiser investir em algo em longo prazo para sair da crise, cultivar atemoia é um bom negócio. O investimento inicial é alto, e demora um pouco para se ter retorno, mas quando a produção começa vale a pena”, garante Deny Sanábio. O produtor que vai iniciar o cultivo pode começar com poucas mudas para depois expandir a quantidade aos poucos. Ele explica que, para o plantio e a manutenção, no primeiro ano, o produtor terá de investir cerca de R$ 20 mil por hectare. No segundo e no terceiro ano, precisará desembolsar mais cerca de R$ 10 mil. A produção e colheita só terão início no quarto ano, quando começará, então, o retorno do investimento. “Se bem cuidada a lavoura, o lucro é certo”, garante o técnico da Emater-MG.   O cultivo da atemoia é caro por ser bem trabalhoso e exigir alguns cuidados para que dê certo. Os principais requisitos para se ter sucesso na produção são: bom preparo do solo; investir em mudas de qualidade, que vão resultar em frutos sadios; boas condições para formação do fruto, como adubação e irrigação, e o controle severo de pragas e doenças, como a broca do coleto e a antracnose, com o uso correto de fungicidas nos períodos corretos.   Cultivo   É importante que o produtor siga a orientação dos técnicos para programar o período da colheita, que é feita manualmente. A safra é de seis meses depois da poda, podendo ser programada com uma época favorável à comercialização. A época ideal para o plantio da atemoia é no período chuvoso, devido à necessidade de água para as mudas.   Produtores da região do Jaíba desenvolvem o cultivo da atemoia   Atentos ao crescimento do mercado e aos bons preços de comercialização da atemoia, produtores da região do Projeto Jaíba, no norte de Minas, buscam melhorar o desempenho da cultura. Antônio Alceu Bernardo é um deles. Ele tem um terreno de 10 hectares e trabalha com atemoia há 14 anos. Em seu processo de cultivo está a poda sistemática, para garantir a produção durante o ano todo, fazendo a colheita a cada mês.   A poda está entre os tratos culturais adequados para o bom desenvolvimento da atemoia. Devem ser realizadas as podas de formação, frutificação e raleio de frutos, quando alguns frutos são retirados para diminuir o excesso na planta.   O desbaste de ramos deixa a copa aberta, para facilitar o trabalho do manejo para a colheita. Toninho, como é conhecido, cultiva a variedade gefner, que é diferente da cultivada em São Paulo, onde o destaque é a thompson. “Eu trabalho de forma que consiga vencer a concorrência dos paulistas, porque o tipo de fruto deles é melhor. A thompson consegue ter mais tempo de prateleira. A gefner, quando amadurece, fica escura, e isso impede as vendas”, conta.   Visando melhores rendimentos, o produtor pretende mudar o tipo de atemoia plantada, de gefner para thompson, mas isso ainda está em processo de estudo. Sua produção atual é, em média, de 1.500 caixas com 3,5 quilos cada uma. Segundo ele, no Jaíba existem 30 hectares de plantação da fruta, o que é considerado pouco se comparado a cultura da banana e da manga.   O preço da fruta comercializada por Antônio Bernardo varia ao longo do ano, dependendo do volume de produção ofertado, ficando em média entre R$ 11 e R$ 18 o quilo. Toninho planta em Minas, mas comercializa em São Paulo. “Os paulistas gostam mais de atemoia. Lá eu consigo vender de seis a sete mil caixas por semana. Se eu fosse vender em Belo Horizonte, levaria um mês para vender a mesma quantidade”, estima. Na capital mineira, a atemoia pode ser encontrada no varejo pelo valor médio de R$ 10 o quilo.   Mercado internacional na mira dos produtores. Faltam dados sobre a importação da fruta   “A atemoia é mais cara que as outras frutas por ter oferta menor que a demanda”, esclarece Deny Sanábio. No entanto, mesmo faltando produto no mercado nacional, muitos produtores estão de olho no mercado de outros países   A possibilidade de exportação da fruta é um assunto que vem sendo tratado, desde 2005. Porém, nenhum órgão do governo de Minas procurado pelo caderno agropecuário Força do Campo, como a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, por meio da Exportaminas, e a Emater-MG, soube informar dados sobre a exportação da atemoia.   “É uma fruta boa, que amadurece fora da planta e, por isso, suportaria bem o transporte para outro país, desde que nas condições e temperatura ideias. Sei que alguns produtores estão conseguindo exportar, mas não sei a quantidade e nem para onde. Esses dados ainda não passaram pela Emater-MG”, relatou Deny Sanábio.   Holanda e Portugal sempre demonstraram interesses em adquirir a atemoia, que se destaca entre as frutas cultivadas nas áreas irrigadas do Projeto Jaíba, região que já atende a países da União Europeia, como Portugal, Espanha, Alemanha e Rússia com o fornecimento de banana, uva, limão e manga palmer.   A Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas (Abanorte), que congrega 26 associações, cooperativas, sindicatos e empresas ligadas ao agronegócio da fruticultura, com cerca de 3.500 produtores rurais, tem buscado junto ao governo federal ajustar a infraestrutura portuária para atender ao embarque de frutas nobres da região, entre elas a atemoia.   Ponto a ponto   Conheça a atemoia   * Da família das anonáceas, é resultado do cruzamento da pinha ou fruta-do-conde com a cherimoia;   * Tem formato semelhante ao da pinha, mas é um pouco maior e pontiaguda em um dos extremos, tem casca rugosa, polpa branca e é carnosa, com sementes pretas;   * Principais variedades no Brasil: pink’s mammoth, african pride, pr-3, bradley, thompson e gefner;   * Pesa, em média, 450 gr., mas há ocorrências de frutos com mais de 1k.   “Hoje, se alguém quiser investir em algo em longo prazo para sair da crise, cultivar atemoia é um bom negócio” Deny Sanábio, Coordenador técnico de Fruticultura da Emater-MG   “Eu trabalho de forma que consiga vencer a concorrência dos paulistas, porque o tipo de fruto deles (thompson) é melhor que o meu (gefner)” Antônio Alceu Bernardo, Produtor no Projeto Jaíba

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