Timing certo: 'Saturday Night Live' inspira há 40 anos

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
21/01/2016 às 07:54.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:06
 (Carlos Henrique/Divulgação)

(Carlos Henrique/Divulgação)

Se tem um comediante americano que o leitor a-do-ra, não perdendo nenhum filme dele no cinema, a chance de esse ator ter saído do “Saturday Night Live” (SNL) é grande. Pelo menos, entre aqueles surgidos nos últimos 40 anos, tempo que o programa está no ar.

Eddie Murphy (“Um Tira da Pesada”), Dan Aykroyd (“Caça-Fantasmas”), Adam Sandler (“Click”), Will Ferrell (“O Âncora”)... A humorista mineira Paloma Santos – um dos destaques do programa Central 98, da rádio 98 FM – quase perde o fôlego ao tentar lembrar todos os nomes de sucesso.

“Os maiores comediantes hollywoodianos passaram pelo crivo do ‘Saturday’”, observa Paloma, que não esconde a influência do programa. “O stand-up comedy, com seu humor de cara limpa, é um formato tradicional nos EUA e que há algum tempo caiu no gosto popular por aqui”, afirma.

Enquanto o SNL não retorna à grade do canal Sony, que geralmente começa a exibi-lo após o início da temporada americana, os fãs podem matar a saudade a partir desta quinta (21), com a estreia do filme “Irmãs”, que tem no elenco Tina Fey e Amy Poehler, surgidas na atração.

Além de lançar a carreira de muita gente boa, o SNL também teve vários esquetes transportados para a tela grande. Caso de “Os Irmãos Cara de Pau” (1980), com John Belushi e Dan Aykroyd, e “Quanto Mais Idiota Melhor” (1992), estrelado por Mike Myers e Dana Carvey.

No ano passado, a dupla de idiotas roqueiros que não sai do sofá de casa reviveu os personagens num especial de três horas e meia que reuniu dezenas de comediantes das várias fases do programa, além de convidados famosos.
 

Humor rápido

No Brasil, a Rede TV! tentou capitalizar esse sucesso em 2012, com versão nacional encabeçada por Rafinha Bastos. Não deu certo. “Começaram errando no dia, passando no domingo no lugar de sábado”, lamenta Totonho, que gosta do timing do humor americano.

“Os roteiros exibem um humor rápido, que a TV brasileira não consegue acompanhar”, salienta o comediante, que também empresta sua verve humorística ao Central 98. Para ele, o mais perto que se chegou do formato foi com “Porta dos Fundos”, numa versão curta. “Nos EUA, geralmente são 22 minutos de piada atrás de piada”, compara.

Carlos Nunes não é adepto do stand-up comedy, embora tenha vivido dois anos do dinheiro que ganhava no bar do Lulu (point da capital na década de 90), fazendo exatamente o que foi pedido pelo proprietário, que viajou aos EUA, naquela época, e voltou encantado com aquele tipo de humor. “Nunca tinha feito e sofri muito, pois tinha que ter um texto novo toda semana. Gosto de fazer personagens, decorar o texto e fazer as pessoas pensarem através do riso”.

Chevy foi um dos primeiros integrantes do SNL a ganhar destaque no cinema, ainda na década de 70


Mike Myers e Dana Carvey, a dupla que retomou os papéis do esquete “Wayne’s Word”

O programa sempre traz participações de estrelas, como Cameron Diaz (em esquete com Will Ferrell)

‘Irmãs’ estreia nesta quinta nos cinemas com Tina Fey e Amy Poehler

As personagens de Tina Fey e Amy Poehler citam a comédia teen “Negócio Arriscado” (1983) como justificativa para realizar uma festa de arromba na ausência dos pais. As irmãs tentam recuperar a adolescência vivida na década de 80, após terem colhido fracassos na fase adulta.

A oportunidade de falar de uma geração que cresceu no auge do neoliberalismo econômico, sem o devido amparo emocional, a partir do humor negro da turma do “Saturday Night Live”, é desperdiçada com a insistência em apoiar a narrativa em piadas apelativas.

“Irmãs” é uma versão de saias de “Projeto X – Uma Festa Fora do Controle”, com muita festa, drogas, sexo casual e palavrões –a diferença é que a roteirista Paula Pell (cria do SNL) bota mulheres falando com liberdade de “peidos da vagina”, “fuçar arbustos” e “DIU no reto”.

A menção a “Negócio Arriscado” vira apenas a ilustração de uma época, perdendo de vista um dos temas da comédia protagonizada por Tom Cruise: a sensação de liberdade e poder proporcionada pelo dinheiro e a culpa por perder tudo isso rapidamente numa única semana.

Como em “Curtindo a Vida Adoidado” (1985), há uma crítica à acumulação material e ao próprio sistema capitalista. Mas em “Irmãs” ocorre uma inversão dessa leitura, quando a dupla praticamente destrói a casa dos pais, que seria um exemplo da retomada de um alicerce familiar.
 
Inversão
 
Não se questiona o fato de os pais estarem vendendo uma casa com vários problemas em sua fundação, usufruindo do dinheiro obtido num condomínio de luxo e aproveitando aquilo que as filhas deveriam estar fazendo em suas idades: muito sexo e viagens.

A brincadeira do filme se resume a isso: enquanto os pais se mostram liberais, pegos no flagra durante uma brincadeira sexual, as quarentonas não conseguem se estabilizar, embora, na trama, isso signifique basicamente a arrumar um homem e um emprego.

As frustrações delas e da antiga turma do colégio são canalizadas na festa, com situações que não diferem de outras comédias adolescentes, como “A Última Festa de Solteiro” e “Projeto X”, quando as coisas não saem conforme o planejado.

E, como em muitas delas, “Irmãs” propõe uma solução fácil, de acordo com o american way of life: como num passe de mágica (vide “Mulher Nota Mil”), após tanta destruição, tudo pode ser plenamente corrigido, substituindo por algo melhor do que estava antes.

Protagonistas de “Irmãs”, Tina Fey e Amy Poehler trabalharam juntas no programa


 
Veja o esquete do programa "Saturday Night Live" exibido no dia 16 de janeiro, em que o convidado Kylo Ren, de "Star War: O Despertar da Força", aparece disfarçado de técnico de radares para saber o que os soldados do Império Galáctico pensam dele.

Confira vídeos:
 
 

Veja também o trailer do filme "Irmãs", que conta com vários atores do programa "Saturday Night Live"
 

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