23 de abril é o Dia Nacional do Choro, gênero que promove encontro de gerações

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
21/04/2014 às 11:28.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:14
 (Ricardo Bastos)

(Ricardo Bastos)

Aos 91 anos de idade, o violonista Mozart Secundino continua a frequentar rodas de choro na capital. Mas sua relação com jovens músicos não se dá apenas nas apresentações, como também no dia a dia. De vez em quando, pega o telefone para conversar com discípulos, muitas vezes mais de 60 anos mais novos.iga apenas para saber se está tudo bem no universo do choro.   “É muito melhor tocar hoje do que antigamente. A turma se renovou muito, tem muito mais jovens interessados nesse tipo de música e existem mais oportunidades em toda a cidade”, afirma Mozart, que se tornou um símbolo do grande intercâmbio entre os vovôs e os netos das rodas de choro belo-horizontinas, que cresceram consideravelmente desde o início do século, graças ao aumento do interesse pelo gênero tanto por músicos quanto por público.    Professor de Práticas Interpretativas do Choro na Escola de Música da UFMG, o trombonista Marcos Flávio Freitas, o Marcão, explica que a internet foi fundamental para a popularização do choro entre os jovens. “As pessoas passaram a ter acesso a vídeos, informações. Há tanta gente consumindo choro, que hoje boa parte das casas de shows de Belo Horizonte reservam um dia a essa música”, diz o professor, reforçando que o choro sempre foi muito apreciado por músicos de formação erudita por ser um gênero de difícil execução.    “Na universidade, nas formaturas dos alunos, percebi que sempre houve um repertório sinfônico, mas que os músicos sempre encerravam suas apresentações com um chorinho”, diz Marcão.   Toca de Tatu é exemplo da juventude do choro mineiro   Violonista de 25 anos, Lucas Telles é um dos jovens que mantém contato com o veterano Mozart Secundino. Há três anos, se juntou a três amigos e companheiros de faculdade e formou o Toca de Tatu, que rapidamente se tornou referência do choro em Belo Horizonte, especialmente após o lançamento do álbum “Meu Amigo Radamés”, com músicas de Radamés Gnattalli.    O quarteto acaba de voltar de turnê pela Europa – quando chegou a se apresentar no prestigiado Clube do Choro de Paris – e costuma se apresentar de quatro a cinco vezes por mês. “Como o choro é uma música autêntica, não influenciada pela mídia, é atemporal e possui altos e baixos. Ficou sumido na época do auge da Jovem Guarda e do rock, quando os chorões foram tocar em bandas de baile, mas teve seus bons momentos, como agora”, afirma Lucas Telles.    Ele explica que as rodas de choro em Belo Horizonte possuem uma característica bastante interessante: é possível encontrar senhores com mais de 70 anos e jovens na casa dos 20 e 30 anos. Mas as pessoas de “meia idade” são raras. “Eu mesmo não me lembro de ter ouvido choro na infância, não tocava na minha casa. Só fui aprender a gostar de uns anos para cá, por influência de outros músicos”, afirma Telles, que chegou a tocar com o cavaquinista Waldir Silva (morto no ano passado) durante três anos. “Ele me adotou como neto. Assim como o Mozart”.    Entusiasta   Integrante dos grupos Flor de Abacate e Choro de Minas, além de endorser da Yamaha, Marcos Flávio é o maior entusiasta do gênero dentro da UFMG. Seu mestrado abordou a história do choro em Belo Horizonte, enquanto seu doutorado está sendo realizado sobre o trombonista Zé da Velha.    “O choro na capital começou ainda no início da cidade. As primeiras partituras foram enviadas à banda do Corpo de Bombeiros, enquanto a cidade estava sendo construída. Depois foram entregues à banda Carlos Gomes, criada para tocar na fundação da capital e em eventos públicos”, explica Marcos Flávio. “Os primeiros regionais foram criados a partir da década de 30, por conta da demanda da Rádio Mineira (Inconfidência)”.    Trombone   Mestre de trombonistas que têm se destacado na atual música instrumental (como Leonardo Brasilino e Alaécio Martins) e incentivador de jovens chorões mineiros, Marcos Flávio não se destaca apenas como acadêmico, mas também como instrumentista.    Em “Chorobone” (2005), ele mostrou que seu instrumento não precisa ser apenas um coadjuvante em um grupo, mas, sim, ganhar destaque – importância que flauta, clarinete, bandolim e cavaquinho costumam ter em boa parte das formações.    “É muito difícil ter uma técnica para tocar choro no trombone de vara, porque as notas são muito rápidas. É um instrumento visto como acompanhamento. Mas eu gravei músicas como ‘Tico-tico no Fubá’ e ‘Gato e Canário’, que nunca haviam sido registradas em trombone solo”, diz Marcos Flávio.

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