50 anos depois, 'Armadilha do Destino' continua incômodo

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
07/08/2016 às 15:36.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:13
 (Campton Films/divulgação)

(Campton Films/divulgação)

Completando 50 anos de seu lançamento nos cinemas, “Armadilha do Destino” (cartaz desta quarta no Telecine Cult, às 10h20) ainda surpreende ao provocar uma sensação exasperante e claustrofóbica num cenário aberto e de belezas naturais, em castelo medieval num istmo no norte da Inglaterra, em que o diretor polonês Roman Polanski não se esquiva em trabalhar planos gerais e panorâmicos.

Essa almejada contradição tem êxito no uso do thriller como gênero, da fotografia em preto e branco e, principalmente, na maneira como o realizador apresenta seus personagens, todos eles tolos, sem perspectivas e fracassados em suas intenções, exibindo um tipo de humor irônico e nada indulgente, que contrasta com o peso histórico daquele lugar.

O cenário oprime e amplia o deslocamento daqueles personagens, que “não poderiam estar ali”. Ou, se estão ali, por um acaso, como o carro de dois gângsteres, eles dão de encontro com o seu inferno – lugar de morte (que abre e encerra o filme) e loucura, que também exibe o desdém do ser humano pelo outro, dentro de uma sociedade falida e que vive de aparências.

George (Donald Pleasence) é exatamente isso: ex-soldado, é um covarde ao não enfrentar os bandidos que tomam seu castelo. Está com uma mulher francesa jovem e linda (Françoise Dorléac), mas tem com ela uma espécie de casamento de fachada. Seu lado afeminado e atormentado se “complementa” à rudeza e força do invasor Dickie (Lionel Stander), o que, curiosamente, o torna adequado à situação.

Sabemos que Dickie fracassou numa ação e está em fuga, mesma situação de George, cuja escapada é interior, cada vez mais evidente quando é pressionado pela sociedade, simbolizada por uma família de visitantes indesejáveis, de atitudes soberbas e invasivas. Dickie está à espera de um socorro que nunca vem, também largado à própria sorte, descartado num local decadente.

Outro recurso provocador de constante incômodo no espectador é a omissão de alguns detalhes. O que seria esse plano que deu errado, lembrado sempre que se pronuncia um nome: Katelbach? Quem é essa mulher, cujo bastidor do encontro com George é sussurrado no ouvido de Dickie? Polanski não quer respostas, mas levar a plateia a pensar que, como seus personagens, estão apenas de passagem.

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