A atitude do design cyber punk do mineiro Erico Moreira

Altino Filho - Hoje em Dia
07/04/2013 às 15:06.
Atualizado em 21/11/2021 às 02:37

A subcultura punk, a partir do final dos anos 1970, agrupou os estilos que nasceram de várias manifestações artísticas - e que tinham características comuns àquelas ditas punk. E o sarcasmo niilista, a subversão da cultura, o comportamento, a ideia do faça-você-mesmo, a estética agressiva, entre outros sinais, começaram a ser detectados também em áreas além da música. Veio a moda, o design e, já como movimento, a inserção nas artes plásticas, no cinema e na poesia.

Foi dentro desta onda que surgiu na primeira metade da década de 80 um grupo vindo da cena punk londrina que juntava experiências com performance de rua e esculturas com sucata. Nascia a Mutoid Waste Company, fazendo um barulho danado tanto em suas festas - sempre em squats (casas invadidas nos quatro cantos de Londres) - quanto em suas intervenções, onde o som da lata, do ferro e do maçarico cuspindo fogo estavam sempre presentes.

Em 1986, veio a consagração do bando: uma montanha de carros sucateados e empilhados recriavam os famosos contornos de Stonehenge para o Festival de Glastonbury, e a turma foi finalmente apresentada a toda a Inglaterra e, num segundo, ao resto da Europa.

Punk-a-Bestia

Erico Punk-a-Bestia só iria se juntar ao grupo cinco anos mais tarde. “Sou um artista multi-experimental, pós-industrial, pós-punk, cyber-punk, e eu já era assim quando me juntei ao Mutoid” conta Erico. “No meu deslocamento de fronteiras, com esses 24 anos na Europa, quase 20 de Alemanha, fui contaminado e contaminei. Eu vou em direção à precariedade da robótica, no rumo dos detritos do mundo industrial. Gosto que o trabalho esteja interagindo com o ambiente e o público em grandes eventos, que cause impacto. Que o trabalho faça parte da festa” diz. Erico hoje é Moreira e entende que quase tudo já foi feito. “A internet revolucionou. E todos postam arte, filmes, fotos, existe uma aposta na originalidade. Mas o que fazemos não perdeu a força, são esculturas cibernéticas”.

Nascido em Guanhães(MG), Erico chegou a estudar escultura na FAOP (Fundação de Arte de Ouro Preto) e depois se mudou para Florença em 1989 para se especializar. Mas acabou se integrando ao Movimento Anárquico de Ocupação, uma organização que fazia a gestão de grandes espaços “invadidos” por artistas. “Acabei ocupando um espaço de 40 mil metros quadrados de liberdade. Construi o meu primeiro laboratório coletivo de escultura e foi ali que conheci esse fantástico grupo de escultores ingleses da cena punk, os pioneiros da rave e dos cenários pós apocalípticos com suas grandes esculturas e acid music, era o começo dos 90.” relembra Erico.

E a contaminação não foi pequena. O leitor pode entender bem a “pegada” do Mutoid Waste Company num rápido google, mas os reinos animal e vegetal renascidos a ferro e fogo habitam tanto os trabalhos dos ingleses quanto o imaginário construtivo de Erico. Estão lá aves que nascem da lata, unicórnios, serpentes, bichos robotizados, flores de ferro, janelas para um mundo futurista e seco como se todos nós tivéssemos um pouco de Mad Max.

O Futuro

No blog http://www.ericomoreira.net, ele explica: “... mergulhando em uma variedade de paisagens, cenários, línguas e estilos de vida. Encapsulando as impressões visuais... criando novas formas, estruturas, misturando materiais e acrescentando um tempero de outras experiências, e finalizando a obra com uma série de nuances que me chega a cada dia.”

Para que nada fique solto - ou para evitarmos chegar num ofício abstrato - talvez seja bom que se diga que Erico Moreira é um escultor, um designer pós moderno, um cenógrafo hard metal, um arquiteto de exteriores, fabricando traquitanas futuristas que conversam com o teatro (como já conversaram na Espanha com o “La Fura dels Baus” ou na França com o “Generik Vapeur”), e também conversam com a dança, com o cinema (vide Mad Max), com o mobiliário urbano (como a árvore de metal com 14 metros de altura que construiu em Berlin) e, finalmente, com a música e seus grandes eventos de rock, folk ou jazz.

Na cerimônia de encerramento dos Jogos Paraolímpicos de 2012 em Londres, o artista não estava presente nem trabalhou para a produção do evento mas fez questão de enviar para a reportagem o filme “como uma amostra do que há de melhor nesta área que atuo”.

É realmente grandioso o espetáculo e ilustra de forma genial todo o sentido dos Jogos http://www.youtube.com/watch?v=1yC8EzCI0RM

“Eu desenvolvi meu trabalho de forma autodidata. Fui contaminado por muita gente”, brinca Erico. “Não sou fruto de uma escola de arte, aprendi naturalmente compartilhando técnicas com outros criadores. Hoje, quando me perguntam o que eu faço, respondo às vezes apenas “street art”. Vejo que muitas pessoas não entendem o que é isso. Talvez seja melhor assim”, encerra Erico que, na semana passada estava em BH, mas já com as malas prontas para o seu Velho (novo?) Mundo.

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