(Califórnia Filmes)
Além do nome de Christophe Gans na direção, e de Vincent Cassel encabeçando o elenco, “A Bela e a Fera”, recém-lançado em DVD pela distribuidora Califórnia, tem outro ponto em comum com “O Pacto dos Lobos” (2001): o que as narrativas tratam, na verdade, é de uma sociedade movida pelas aparências e pelo julgamento precipitado. Os gêneros até podem ser distintos, apesar de a ação e o mistério estarem presentes, mas Gans não deixa de imprimir em “A Bela e a Fera” o mesmo tom crítico usado em “O Pacto dos Lobos”, em que a vitória da moral só acontece após a violência se concretizar, com apenas uma voz dissonante entre a população que só tem olhos para o status. No filme de 2001, essa função é feita por um biólogo, enquanto “A Bela e a Fera” – inspirado no conto de fadas escrito por Gabrielle-Suzane Barbot – opta por uma garota amorosa. Um se escora na razão e na ciência. A outra, no instinto e no sentimento. Nos dois casos, eles estão lidando com uma besta, num sentido literal e figurado. O misterioso animal existe e parece ameaçar a rotina de uma classe burguesa, mas não há muito mais envolvido do que a eliminação simples desse “mal”. As histórias passam a olhar para o entorno, para uma outra besta mais perigosa, que é a intolerância ao diferente, ao que não é plenamente reconhecido como um dos seus. Essa visão é apenas esboçada na famosa animação da Disney, lançada em 1991, abusando da caricatura para mostrar os reais interesses de um caçador para salvar sua amada (Léa Seydoux, de “Azul É a Cor Mais Quente”, polêmico devido às fortes cenas de sexo entre duas garotas) das garras do monstro que a sequestrou e a prendeu em um castelo. Com relação à produção da Disney, outra diferença importante é o comportamento de Bela, que não é tão frágil e ingênua. Na realidade, ela se sente deslocada de seu mundo, do que seus irmãos se transformaram com o luxo e a perda dele, fazendo de tudo para reconquistar a posição social que detinham antes.