A ditadura da beleza sob a ótica da ‘mulher feia’

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
08/05/2015 às 07:46.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:56
 (Divulgação)

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Zero complacente consigo mesmo, Otávio Muller nem hesitou ao entrar em contato com a escritora Cláudia Tajes e se oferecer para encarnar o papel que, originalmente, em livro, referia-se a uma mulher. A obra em foco é “A Vida Sexual da Mulher Feia”, e o projeto, transpô-la para o teatro. “E ninguém seria tão feio quanto eu vestido de mulher”, diz o impiedoso ator carioca, que traz a peça à capital mineira neste final de semana – neste sábado, às 21h, e domingo às 18h, no Teatro Sesiminas.


A transposição para o palco era, na verdade, uma bola levantada por Heloísa Perissé – os dois, você se lembra, compunham o elenco do saudoso “Sob Nova Direção”, ela como Belinha, ele como o divertidíssimo Horácio (quem não se lembra de ele destruindo o sofá de Belinha?). “Ela (Heloísa) tinha me convidado para dirigir a montagem, na qual ela faria a personagem. Isso faz um tempo, a Heloísa fazia (a comédia) ‘Cócegas’ e, até pelo ‘sucessão’ que estava sendo, vi que ela não ia conseguir fazer. Passaram-se alguns anos, e resolvi montar”, repassa o moço, que, aos 49 anos, vive a primeira experiência de estar sozinho no palco.


“O único feedback que tenho é o público. Nunca tinha tido essa experiência. Não é que fosse exatamente um sonho e tal, mas, na minha avaliação, tem sido muito legal”. À história: a produção jura, de pés juntos, que o espetáculo não tem como tônica a risada sádica, aquela que segrega as “formosas” das ditas “desprovidas de beleza”. Tampouco apontaria o dedo para torturar, praticar bullying. O objetivo é a risada generosa e solidária, imbuída da reflexão e do combate aos condicionamentos.


No livro, Claudia Tajes criou uma protagonista sem rosto, não esmiuça descrições físicas e não impôs uma caracterização isolada. O recurso, ainda segundo a produção, facilitaria a identificação do público, não deixando ninguém, mulher ou homem, imune à insegurança que assola a personagem.


Otávio frisa que o fato de o livro ter sido escrito por uma mulher já lima o viés preconceituoso que o nome da peça poderia induzir. “É uma brincadeira gigante”. E que deve ter desdobramentos, no cinema e na TV. Aliás, a parceria com Claudia rendeu, ainda, o quadro “A Mulher da sua Vida”, que dividiu com Marcelo Serrado, no “Fantástico”.


Ir à luta


E que ninguém ouse perguntar como é se vestir de mulher. “Esse lance não é novidade, remonta a Shakespeare, ou antes. O desafio é estar sozinho em cena”. E o que o texto quer ressaltar? “A importância de ir à luta, não ficar debaixo da cama”, diz ele, que também dá vida ao Djalma, no seriado “Tapas & Beijos” e deve entrar na próxima novela das 21h, de João Emmanuel Carneiro. Em tempo: na peça, ele recebe o público e vai se transformando, “e brincando de fazer essa mulher”.


“A Vida Sexual da Mulher Feia” – Neste sábado (9), às 21h, e domingo, às 18h, no Teatro Sesiminas (Padre Marinho, 60). Ingressos: R$ 80e R$ 40 (meia). Classificação: 14 anos
 

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