“A Grande Aposta” destrincha a crise econômica vivida nos EUA em 2008

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
14/01/2016 às 07:45.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:01
 (Paramount Pictures)

(Paramount Pictures)

A combinação é bizarra e, possivelmente, muita gente terá dificuldade em comprar a ideia de “A Grande Aposta”, outra estreia desta quinta (14) nos cinemas. Trata-se de um filme bastante realista em relação aos fatos históricos que levaram ao colapso da economia americana em 2008, mas completamente exagerado na maneira como retrata alguns dos personagens do setor financeiro.

Baseada no livro-reportagem “The Big Short: Inside the Doomsday Machine”, de Michael Lewis, a produção é minuciosa ao mostrar todos os movimentos que culminaram na maior fraude dos Estados Unidos, capitaneada por bancos renomados, não poupando o espectador com palavras e diálogos próprios desse universo.

Não precisava de tantos detalhes numa ficção, mas o desejo do diretor Adam McKay talvez fosse enveredar pelo gênero investigativo de maneira invertida, em que o menos importante é a motivação dos protagonistas, deixando mais evidente a sujeira e a confusão do aspecto humano, em contraste com o movimento linear das pistas.

Por mais que se recorra a palavras como CDS, CDO e subprime, elas vão se amontoando até não termos mais dúvida de que se trata de um grande golpe bancário, realizado com a complacência das autoridades. E descolam-se da boca dos financistas, fazendo-nos perceber a insanidade, o egoísmo e a idiotia de quem participa desse jogo.

A cena que melhor exprime a artificialidade e a hipocrisia é quando Brad Pitt exige que seus sócios parem de comemorar o lucro, ao se anteciparem à armação, únicos a depositarem algo no bolso em meio a milhões de desempregados e sem-tetos. O mesmo vale para os personagens de Steve Carell, Ryan Gosling e Christian Bale.
 
Farsa humana
 
São vitoriosos ao decifrarem um enigma, mas ainda permanecem no mesmo nível dos outros operadores da Bolsa de Valores. Realizador de “O Âncora: a Lenda de Ron Burgundy” (2004), deboche dirigido ao meio televisivo, McKay sublinha essa conclusão com ironia, cinismo, personagens que falam diretamente à câmera e edição ágil, artifícios que nos lembram “O Lobo de Wall Street” (2013), de Martin Scorsese, mas sem o charme de Leonardo di Caprio.

“A Grande Aposta” é doloroso justamente por não permitir que nos identifiquemos com nenhum dos personagens, não só ao dar a mesma importância a todos como pelo comportamento extravagante. Ao público, não há alternativa se não ver o filme como um documentário engraçado, que faz rir de nervoso da farsa humana.
 

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