A sabedoria indígena é homenageada neste espaço pela passagem, ontem, do Dia do Índio, e é recontada de maneira poética pelo escritor Tiago Hakiy, autor de “O Canto do Uirapuru” (editora Formato). A história, narrada no livro pelo velho pajé, contador de histórias e sabedor dos segredos e das tradições da tribo Sateré-Maué, fala sobre o nascimento do rio Andirá, fonte de vida, onde curumins e cunhantãs (meninos e meninas indígenas, respectivamente) gostam de nadar, e onde índios adultos pescam e remam com suas canoas.
Reza a lenda que, antes do surgimento do Andirá, a tribo Maué tinha que percorrer um longe e árduo caminho para encontrar a água do rio Tapajós. E segundo o velho pajé, a origem do rio Andirá está ligada à história de amor entre Wassiri e lacy May.
A perda do amado fez com que lacy May cantasse e se debulhasse em lágrimas. Compadecido, o Grande Criador converteu as lágrimas da apaixonada índia no rio Andirá. Assim, lacy May foi transformada no pássaro uirapuru, conhecido pelo canto melodioso e triste.
A narrativa é toda pontuada por vocábulos indígenas, que conferem mais fidelidade à essa história. Itaúba, maracá, jaraqui, quisé são apenas algumas palavras presentes no texto. Pudera! Tiago Hakiy é descendente do povo Sateré-Maué, do Amazonas.
A busca pelo significado das palavras herdadas da tribo faz com que o leitor mergulhe em um universo novo e, ao mesmo tempo, contagiante, onde a natureza se revela o tempo todo.
A noite de céu estrelado, a lua que conversa com o silêncio, os mistérios da floresta, o canto mágico dos pássaros... A natureza ganha contornos encantadores e não menos vibrantes no traço de Taísa Borges, ilustradora que se apodera de tons de verde, vermelho, amarelo e azul para criar contornos inusitados nos desenhos dos personagens da linda narrativa sobre o amor.   O autor faz um convite para o leitor imergir no imaginário fantástico que explica o surgimento do rio Andirá e como ele está associado ao uirapuru.

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