A partir de um roubo, 'Viúvas' enxerga nova ordem com mulheres no comando

Paulo Henrique
phenrique@hojeemdia.com.br
03/12/2018 às 07:00.
Atualizado em 28/10/2021 às 04:00
 (FOX/DIVULGAÇÃO)

(FOX/DIVULGAÇÃO)

A história de “As Viúvas” é menos interessante do que o contexto em que os personagens estão inseridos. Dirigido por Steve McQueen, ganhador do Oscar por “12 Anos de Escravidão”, o filme é um thriller policial sobre um grande roubo envolvendo uma gangue formada apenas por mulheres.

Sem se conhecerem, uma negra (Viola Davis) e duas imigrantes (Michelle Rodriguez e Elizabeth Debicki) participam do plano como uma forma de sobrevivência, já que os maridos deixaram muitas dívidas. O roteiro segue à risca a fórmula do gênero nos quesitos ação e suspense, remetendo ao recente “Oito Mulheres e um Segredo”.

Passados 30 minutos, quando já definimos quem é quem na trama de “As Viúvas”, é possível antecipar o desfecho, que não deixa de ser interessante devido à sucessão de erros que culmina num irônico acerto de contas, cruzando diversos personagens de um distrito de Chicago interligados por pequenas corrupções.

É neste aspecto, dos delitos e das mentiras que todos compartilham, que o filme de McQueen cresce aos nossos olhos. Não há nenhum herói impoluto, apesar de não termos dúvidas que a personagem de Viola seja a protagonista. Brancos ou negros, todos eles vendem a alma ao diabo, por sobrevivência ou desejo de poder.Fox/Divulgação

Viola Davis protagoniza filme que critica sociedade patriarcal

Rompimento

A discussão de “As Viúvas” gira em torno do que nos conduz ao desvirtuamento moral, não importando etnia, situação social ou idade. O combustível disso tudo é a necessidade de ter um trunfo (arranjado de forma criminosa) como moeda de troca. E, não por acaso, a narrativa se passa durante uma disputa para vereador distrital.

Neste microuniverso criado por McQueen, aos homens cabem o protagonismo dessas corruptelas, enquanto as mulheres são levadas a reboque. Não se trata de um filme feminista, mas sobre um possível entendimento de que cada um pode ceder um pouco para melhorar a vida do outro, num caminho liderado por mulheres.

O grande roubo promovido pelas quatro personagens (uma quarta, interpretada por Cynthia Erivo, entra no bando para ser a motorista) ganha este significado. Primeiro, o de receber e lidar com os erros do passado de seus maridos. Segundo, por romper com aquela estrutura patriarcal, baseada em valores já superados.

Rompimento que fica muito claro quando notamos a hierarquia das organizações, passadas de pais para filhos (no caso do político branco) e fiéis aos interesses de um grupo (do bando negro), alheios ao resto da sociedade. McQueen cria, em formato de filme de thriller de ação, uma isonomia necessária e transformadora.

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