Abertura de temporada erudita marca estreia de maestro na Sinfônica de Minas Gerais

Thais Oliveira
taoliveira@hojeemdia.com.br
27/03/2016 às 17:21.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:40
 (Fundação Clóvis Salgado/Divulgação )

(Fundação Clóvis Salgado/Divulgação )

O início desta semana marca dois importantes acontecimentos para a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG): a abertura da temporada erudita da Fundação Clóvis Salgado (FCS) e a estreia oficial do maestro Sílvio Viegas à frente da orquestra.

Para brindar as novidades, a obra selecionada foi “Requiem”, de Giuseppe de Verdi (1813-1901). O concerto será realizado nesta terça (29) e quarta-feira (30), às 20h30, no Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1537, Centro), com ingressos a R$ 30 e R$ 15 (meia).

Já em sua chegada, Viegas assinala a forma como trabalhará com a OSMG. Segundo o regente titular, agora, será uma constante a união dos corpos artísticos da FCS no palco. A primeira parceria dessa nova etapa foi montada com o Coral Lírico de Minas Gerais (CLMG). 

O maestro conta que a escolha de “Requiem” é uma homenagem a Sérgio Magnani (1914-2001), o último a reger a obra na FCS há 17 anos e a quem tem como grande mestre. . Verdi não era crente, mas escreve esse ‘Requiem’, que é uma missa na verdade. Trata-se de uma obra cheia de significados por trazer muitas contestações por parte de Verdi”, destaca.

Espetáculo dramático

O maestro explica que o concerto é dramático e remete a um dos maiores dilemas do homem: a morte. Segundo Viegas, Verdi fez a obra aos 61 anos de idade – época em que já começava a questionar o que iria acontecer quando morresse.

“Quando ele faz ‘Rex Tremendae Majestatis’ e o coro fala ‘me salve, me salve’, é como se ele tivesse pegando na ‘gola’ de Deus e dizendo: me salve! Já que você é Deus, me salve’. Há um desespero por parte das almas perdidas sobre o que será delas quando morrer”.

Apesar de Verdi ser ateu, para Viegas, tal obra é a prova de que Deus existe. “Isso porque trata-se de um milagre. É algo que você não acredita e diz: ‘como é possível que um homem tenha escrito uma música tão bonita, poderosa e cheia de sentimento?’. Ela ultrapassa o limite humano”, considera. 

Os concertos desta semana terão a participação dos solistas Eliane Coelho, Ana Lúcia Benedetti, Paulo Mandarino e Sávio Sperandio, escolhidos a dedo pelo maestro. “Esse quarteto é inacreditavelmente maravilhoso”, elogia Viegas

Não haverá mudanças bruscas de imediato

Silvio Viegas chega à OSMG para ocupar a função executada até o ano passado pelo maestro Marcelo Ramos, que deixou o cargo após oito anos.

A diretora de Produção Artística da FCS, Cláudia Malta, não relata nenhum problema em relação a Ramos, considerado por ela como “um ótimo profissional” e “um parceiro da Casa”.

O motivo da troca seria outro. “A alternância entre regentes titulares é algo que faz com que as orquestras se renovem, pelo perfil do novo regente e pelas ideias que ele traz”, indica.

Mineiro de Belo Horizonte, Viegas passou os últimos oito anos à frente da Orquestra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Contudo, o fato de ser professor de Regência na Escola de Música UFMG fez com que nunca estivesse longe de sua terra natal.

Já tendo atuado como regente titular do Coral Lírico de Minas Gerais e Diretor Artístico da FCS e participado de concertos com a OSMG, Viegas se mostra bem familiarizado. Mesmo assim, ele não nega ser este um grandioso desafio.

“Há muitas expectativas artísticas e também administrativas em relação a mim”, afirma. Entre elas, o maestro enumera: ampliação do repertório, ter uma programação definida e seguida até o fim do ano, mais produções e de maior qualidade, maior divulgação e visibilidade da orquestra. “Além de estar ao lado deles nas reivindicações em relação ao salário e melhores condições de trabalho”, completa.Flávio Tavares/Hoje em Dia / N/A

Sílvio Viegas durante ensaio com a orquestra e o coral da FCS

Diálogo aberto

Viegas registra que não fará mudanças bruscas de imediato. “Estou tendo o meu primeiro contato como regente titular e, aos poucos, vou trabalhar com a orquestra. Tudo será feito com cautela”.

O maestro diz ainda que manterá a “porta aberta” para sua equipe. “Vou e quero ouvir a todos, mas deixei claro que a decisão é minha. Ouvir uma sugestão é uma coisa, implementá-la é outra, porque a responsabilidade é de quem a implementa”, pontua.

Uma coisa que aprendi a duras penas, errando muito, é que a melhor coisa que tem é pensar antes de executar. Quando você age de impulso, a chance de cair no erro é grande e de se arrepender depois também”

‘Quero o teatro lotado. Não quero classe A, B, C...’

No que diz respeito ao público, a proposta é ampliá-lo. “Quero o teatro lotado. Não quero classe A, B, C... Quero todo mundo, um público maior, cativo e renovado”, destaca o maestro.

Para tanto, Viegas propôs a intensificação do uso das redes sociais da FCS, com o objetivo de atrair mais jovens para os concertos. “Não há nada mais rápido do que o celular.

Hoje, recebemos mais informações pelo celular do que pelo jornal ou até mesmo pela TV. Minha intenção é, então, ampliar o nosso espaço no Facebook, criar um perfil no Snapchat, ter o Instagram funcionando.

O público gosta de ver como foi o ensaio para o concerto, como é a concepção do maestro, como é a preparação do cantor... Precisamos estar inseridos nessa rapidez para ter um público novo”, avalia.

Outra ação será abrir espaço para que um grupo pequeno possa subir ao palco do Grande Teatro, durante o projeto “Sinfônica ao Meio-Dia”. A ideia é deixar o público sentir a emoção de ver de dentro a orquestra em execução.Cria SA/DivulgaçãoA cantora é a convidada para a primeira edição do “Sinfônica Pop” de 2016, em abril

Programação

A grande estrela da primeira edição de 2016 do “Sinfônica Pop” será a cantora Elba Ramalho. O espetáculo será realizado nos dias 8 e 9 de abril, às 20h30, no Grande Teatro do Palácio das Artes.

Com arranjos de Frederico Natalino e Marcelo Ramos, o repertório traz sucessos eternizados na voz da paraibana como “Chão de Giz”, “Aconchego” e “Sabiá”. Os ingressos já estão à venda, por R$ 50 e R$ 25 (meia).

Também estão previstas para 2016 as óperas “Romeu e Julieta”, de Charles Gounod, que contará com a presença da Cia de Dança Palácio das Artes, e “O Guarani”, de Carlos Gomes.

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