Abuso envolvendo igreja norteia filme mexicano

Paulo Henrique Silva/Hoje em Dia
22/11/2014 às 10:39.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:07
 (Divulgação)

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FORTALEZA – Pouco após João Paulo II se tornar santo, em abril, o filme mexicano “Obediência Perfeita” foi lançado com uma dura acusação dirigida ao papa, apontado como conivente num caso de abuso sexual de cerca de 50 seminaristas pelo padre Marcial Marcel, líder da congregação dos Legionários de Cristo.   O escândalo veio à tona em 1997, mas, por ordem de João Paulo II, o processo foi arquivado pela Igreja Católica e as autoridades civis também não iniciaram investigação sobre o crime, ocorrido nas décadas de 40 e 50. “O papa perdoou Marcel”, registra o ator Juan Ignacio Aranda, após a exibição do filme no 24º Cine Ceará.   Dirigido por Luis Urquiza, “Obediência Perfeita” é baseado no livro homônimo de Ernesto Alcocer, mas prefere não citar os nomes dos envolvidos para não se criar problemas na Justiça, apesar de Marcel ter falecido em 2008, dois anos depois de o Vaticano, já com Bento XVI como papa, admitir as acusações de pedofilia.   “O filme é importante por reabrir a polêmica e a reflexão, tocando num assunto que continua sendo tabu, ocultado não só pela Igreja como pela própria sociedade”, observa Aranda, intérprete de um padre integrante da congregação, aparentemente também homossexual.   “Urquiza me pediu para deixá-lo um pouquinho gay e fiquei com medo de não funcionar. Me baseei num padre da minha primeira comunhão, que ficava apalpando a gente. Não sei se tinha alguma má intenção, mas minha mãe dizia que eu reclamava daquele carinho excessivo”, recorda.   Filho de um famoso ator do México (Ignacio López Tarso), Aranda conta que o diretor foi muito habilidoso na realização do filme, primeiramente ao conseguir, como locação, uma escola católica de verdade. “Ele disse que o título seria ‘Um Caminho para Deus’ e os padres não pediram o roteiro. Filmamos sem qualquer problema”.   Também elogia o fato de Urquiza ter obtido a liberação dos direitos da música “Satisfaction”, dos Rolling Stones, por apenas US$ 2 mil. “Ele enviou, para o grupo, a sequência em que a canção seria inserida e deram o ok”, relata. O hit é usado na cena em que Marcel se droga e dança com um dos seminaristas.   Um jornalista indagou a razão de os garotos serem todos brancos, sem qualquer traço típico dos mexicanos. O ator explicou que os Legionários de Cristo recrutavam meninos de pais ricos, que contribuíam financeiramente para a manutenção da congregação. No filme, o personagem do ator é o responsável pela triagem dos seminaristas.   “Ele checava a história de cada um, se eram mais inseguros, não impondo dificuldades em serem manipulados”, assinala Aranda.   (*) Viajou a convite do evento

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