Adeus ao último imperador do cinema italiano

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
26/11/2018 às 19:15.
Atualizado em 28/10/2021 às 02:23
 (DIVULGAÇÃO)

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 Sexo e política. Talvez seja muito simplista resumir uma trajetória de 50 anos com estas duas palavras. Mas foi o diretor italiano Bernardo Bertolucci, falecido ontem em Roma, aos 77 anos, por causas ainda não divulgadas, quem melhor ilustrou no cinema a fusão desses termos, em filmes como “Antes da Revolução”, “O Conformista”, “O Último Tango em Paris” e “Os Sonhadores”. Em boa parte deles, sexo e política estão ligados pelo desejo de poder, nas mais variadas esferas. Desde o poder de romper com as amarras sociais em “O Último Tango em Paris” (1972), obra polêmica que mostra Maria Schneider sendo sodomizada por Marlon Brando na famosa “cena da manteiga”; até a percepção do comunismo como ideal de sociedade, combustível dos seus primeiros longas. Bertolucci começou no cinema no início dos anos 60, justamente pelas mãos de Pier Paolo Pasolini, outro cineasta de bandeira socialista que escandalizou na maneira de explorar o sexo. Para ambos, o ato envolvia, como na vida política, dois papéis bem claros: o do dominador e o do submisso. Ainda assim era possível transitar entre esses universos, como em “La Luna” (1979) e “Os Sonhadores” (2003). PassadoNestes dois filmes também são bem marcantes a ideia de uma influência familiar nas relações de poder, com um mergulho ao passado impregnado, por exemplo, de erotização. “A Estratégia da Aranha” (1970) acompanha um homem que vai ao povoado do pai morto, para saber mais da vida dele, e acaba se envolvendo com a ex-amante. Ponto de partida muito semelhante a “Beleza Roubada” (1996), feito um quarto de século depois. Mergulhos no tempo que servem também para uma análise muito particular da história política no mundo e, especialmente, na Itália. “Novento” (1976) e “O Conformista” (1970) são filmes- irmãos, exibindo o momento que antecede a ascensão fascista. Formam uma tríade com “Antes da Revolução” (1964), passado nos conturbados anos 60, mesma época da trama de “Os Sonhadores” (2004). Bertolucci soube como poucos trafegar entre pequenas histórias existenciais e painéis históricos sofisticados. No Oscar, arrebatou nada menos do que nove estatuetas em 1988, com “O Último Imperador”, incluindo as de melhor filme e direção. O derradeiro trabalho, quando já estava sob uma cadeira de rodas, foi “Eu e Você”, de 2012. Com esta obra, fechou uma trajetória baseada em adaptações literárias. Neste sentido, foi um dos melhores, fazendo essa transposição sempre com grande eficiência, no mesmo nível do colega italiano Luchino Visconti. “O Último Tango” é um raro trabalho que partiu de roteiro original, resultando num filme controverso até hoje–no Brasil, só chegou às telonas em 1979. UNITED ARTISTS/DIVULGAÇÃO / N/A

Em "O Último Tango em Paris", atriz Maria Schneider disse ter sido violentada em cena por Marlon Brando

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