Albinos são tema do premiado livro fotográfico de Gustavo Lacerda

Clarissa Carvalhaes - Hoje em dia
19/08/2014 às 06:58.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:51
 (Divulgação/Gustavo Lacerda)

(Divulgação/Gustavo Lacerda)

Do convite a quem nunca imaginou ser protagonista nasceu o livro que será lançado logo mais, às 19h30, dentro do projeto “Foto em Pauta”, que acontece no Teatro Oi Futuro (av. Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras).

“Albinos” (Editora Madalena/Terceiro Nome), do fotógrafo belo-horizontino Gustavo Lacerda, é projeto que teve seus primeiros desdobramentos nove anos atrás – quando a série ganhou visibilidade a partir de uma exposição fotográfica.

Para surpresa confessa do próprio autor, desde o início, “Albinos” ganhou respeito e gerou burburinho. “Tornar a obra um livro sempre foi um sonho, mas no começo era algo distante. Para tirar da gaveta, foi preciso fazer todo projeto na raça, na vontade, no amor pela arte e pelo tema. Contei com a ajuda de colaboradores maravilhosos, muito generosos e que abraçaram o trabalho como se fosse deles também”.

“Albinos” já faz parte da história da fotografia brasileira: em 2010 entrou na coleções Pirelli/Masp e da Porto Seguro de Fotografia, sendo apontada como um dos mais importantes trabalhos fotográficos da atualidade.

 

Da sombra à luz

“Eu sempre gostei de fotografar quem está na sombra, à margem das coisas. E sabe, eu vivi essa fase também, em São Paulo, quando tinha chegado há pouco tempo na cidade, e não conhecia ninguém. Eu me lembro que me ‘divertia’ observando as pessoas no Parque do Ibirapuera, nos domingos em que tinha folga”, recorda.

Em uma dessas vezes, Gustavo viu um adolescente albino, o qual ficou observando de longe. “Eu o vi como alguém bem fotogênico, singular – e aquele jeito tímido me instigava”. Tempos depois, começou a pesquisar sobre albinismo e a fotofobia. “Percebi, então, que isso era interessante: trazer para a luz alguém que tem fotofobia e que também se sente ‘na sombra’, socialmente falando”.

Com o projeto “Albinos”, nascido em 2009, ele descobriu o poder que seu trabalho exercia sobre a autoestima das pessoas. Como na vida de Bia, mãe das gêmeas albinas que aparecem de costas no livro. O depoimento comovente da mãe, inclusive, faz parte da obra.

“A Bia me escreveu contando que era carioca e há tempos sonhava em ter filhos. Quando as meninas nasceram, gêmeas, veio a surpresa: eram albinas. Só então ela começou a pesquisar sobre albinismo porque, claro, queria entender melhor. Ela entrou em um processo muito dolorido porque só encontrava informações que a deixava apreensiva quanto ao futuro das filhas”, recorda Gustavo.

“Ela me disse que quando descobriu meu projeto sentiu um certo conforto. Era a primeira vez que ela via beleza e delicadeza na questão do albinismo”, explica ele. Ao longo de cinco anos, Gustavo fotografou cerca de 50 albinos no próprio estúdio, em São Paulo, e também no Rio de Janeiro e no Maranhão. Para o livro, no entanto, apenas 35 imagens foram selecionadas.

O curador e pesquisador de fotografia Rubens Fernandes Junior destaca que “Albinos” se transformou em uma das mais importantes criações da fotografia contemporânea dos últimos anos. “Ela traz à cena personagens raros, apesar da luz própria que emanam naturalmente”.

 

Dia da fotografia

E Gustavo desembarca em BH em um dia extremamente especial. Há exatos 175 anos foi apresentado oficialmente o “Daguerreótipo” – desenvolvido pelos franceses Louis Jacques Mande Daguerre e Nicéphore Niépce. Vale destacar que a técnica fotográfica, em si, já existia. Na Grécia antiga, por exemplo, já havia relatos sobre câmaras escuras e suas reproduções de imagens, mas seria naquele 19 de agosto de 1839 que a primeira câmera fotográfica, com um sistema moderno de fotografia permanente, foi refinada e mostrada.



Os albinos de Alexandre

O fotógrafo pernambucano Alexandre Severo (1978 – 2014), que morreu na semana passada no mesmo voo que vitimou o candidato Eduardo Campos e outras cinco pessoas, também realizou uma série belíssima com albinos filhos de uma família negra que vive fugindo da luz.

A série foi feita em Olinda durante três dias e as fotos, publicadas no “Jornal do Commercio”. “Uma vez uma pessoa veio me dar os parabéns dizendo que adorava minhas fotos das crianças albinas com a irmã negra. Eu disse que também gostava muito, mas que a foto não era minha, mas do Severo – um homem que deixou um trabalho tão lindo e emocionante”, disse Gustavo, sobre o colega morto precocemente. 

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